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domingo, 18 de maio de 2008

O viver do homem

Quanto medíocre é o homem.... todo em seu universo com sua utópica onipotência sentindo-se no topo de sua magnitude. Sim, o homem está no topo... da arrogância, do egocentrismo. O homem é egoísta, e nada mais pode ser pior que isto. O homem de tão egoísta sofre, entretanto o homem gosta de sofrer, sente paixão pelo sofrimento. O homem ama a dor. Tanto mais dolorosa a vida, mais intensa e apaixonante foi. O homem não busca a felicidade, nunca buscou; e sim, suas chagas... suas fendas exteriores. O homem ama sofrer... tanto que tem medo de morrer por não saber se seu sofrimento continuará; acaba sofrendo por morrer... se submetendo aos mais asquerosos atos para não deixar de viver e, conseqüentemente, sofrer.


O homem é o ser que mais ama a vida, o menos inconformado. É claro, que há os realistas... estes se suicidam na primeira oportunidade. Há aqueles que julgam não sofrerem: falácias da vida moderna. Outros julgam sofrerem mais, apenas incompreendidos que não sabem ser o sofrimento igual a todos. Sim, igual, como não haveria de ser? Alguns sofrem mais pela morte de seu cachorro que pela doença degenerativa de seu tio, então, para estes, o cachorro morreu e seu tio permanece. Há também os mais medíocres, aqueles que têm consciência de seu sofrimento e mesmo assim são alegres, felizes, não. Ninguém é feliz; posso provar, não existe felicidade nesse mundo, pois esta foi completamente devorada pela ambição.

Hei de terminar minhas mágoas com a realidade que não inventei por aqui... antes que eu deixe de ser medíocre, caia na realidade e esta se torne uma obra póstuma.

Eu

Nada parece que me satisfaz. Eu poderia dizer que tudo está errado, mas a verdade é que eu sinto errado. Eu sinto uma insatisfação que me traz angústia até o último fio de vida, se isto for possível. O caos domina minha mente como o sal domina o mar, perdura em qualquer parte, mesmo mínima e indivisível... e o salga. Meu ser, salgado de caos, decodifica o mundo em nanosinestesias que se aglomeram tumultuadamente numa cabeça agrilhoada por lembranças axiológicas. Minha razão se desfez em lágrimas cuja finalidade desconheço, apenas sinto.

O mundo me subtrai de sua órbita me arremessando para a estratosfera. E de lá miro minha insignificância perante o tempo-espaço que corrompe toda uma história de sangue e lanças; e percebo minha raridade em ver o que devia ser vendado, e o é aos olhos da massa medíocre. Sorte? Eu diria que não, às vezes é melhor ser medíocre e aceitar tudo com naturalidade a sentir-se pingando eternamente como uma clepsidra; no entanto, entregar-se à alienação não é a solução, e não me fará deixar de sentir o mundo.

Minha pífia presença não me permite curar as feridas que tenho abertas. E, mesmo que permitisse, não as ia querer curá-las, seria a extirpação da minha única sensibilidade ao mundo, mesmo que esta seja causa de dor.

Minha insatisfação, descubro agora, verte da inesperança de ter qualquer esperança algum dia; e o tempo-espaço me molda como areia ao vento molda a montanha, mas eu não sou montanha, sou mármore corroído pela acidez de uma chuva salgada de caos

sábado, 10 de maio de 2008

Crônica da Separação

Às vezes a vida é o que não parecia dever ser. E nos acomodamos de tal forma que não percebemos que ela passa e leva embora nossos sonhos, nossas alegrias. Nisso formam-se chagas incuráveis que hão de sangrar eternamente mesmo que a dor do punhal perfurando as entranhas passe. E o sangue, mais rubro que o próprio sol, corrói a pele pelos poros até que a própria pele se torne sangue, um sangue incolor e salgado que deságua em forma de amor até o coração.

Às vezes a vida leva o que nos era de melhor para um mundo oblíquo, e o rastro desse arrastar de ponteiros e passos fica cravado a ferro na nossa mente, para jamais ser esquecido, apesar de nunca ser lembrado. E o nosso melhor deixa o vazio em seu lugar, e este toma forma e corpo, aumenta de densidade e vai se apoderando do todo; e quando chega nas lembranças mais ternas e pueris se desfaz, em risos entre prantos, em sorrisos entre lágrimas, em amor em meio a dor.

Às vezes a ausência é o único caminho para a presença; que é quando se sente quando não se há, quando se abre ao se fechar, quando a desfeita vira uma feita transversa. E nesse ponto a única solução é a solidão, para evitar que se fique solitário; então há a evocação... e a partir daí apenas o adeus é benvindo e celebrado, apesar da dor aparente, sua razão é pelo amor, mais puro do que nunca, quando supera a si próprio abraçando o altruísmo egoísta, que é quando o seu melhor para a ser o melhor do outro.