Pages

domingo, 29 de junho de 2008

A dor

Prostrada num cantinho da sala, as lágrimas escorriam grossas e volumosas de meus olhos. Sabia que ele nunca mais voltaria, não do lugar para onde ele foi. O corpinho inerte ainda quente em meus braços perdera qualquer movimento que faria qualquer mãe ainda ter um suspiro de ansiedade e esperança. Mas ele já não mais estava ali, sua presença não passava de mera imaginação ou talvez realmente existisse. O caso é que ele se foi. E eu, bem, eu continuaria aqui por mais algum tempo.

Os meses que antecederam foram os piores da minha vida, noites e noites soluçando por ouvir aquela tosse seca e baixinha que vinha de perto, que vinha dele. Uma dessas, ele veio na minha cama, pedindo socorro, e eu nada podia fazer. Essa sensação de impotência que era a pior de todas. Noites e noites pedi que os anjos o levassem de mim, sem dor. E sonhava, sonhava em poder trocar de lugar com ele, sacrificar-me em seu lugar. Quisera eu que um demônio ofertasse a vida dele em troca da minha alma, a venderia no primeiro instante para não ter perigo de pensar.

O dia que ele morreu foi o pior, por um lado eu não queria me separar do meu amor, mas por outro, vê-lo sofrer me angustiava e me fazia sofrer também. O corpinho inerte dele em meus braços não me saía das lembranças, como também me impregnou todos os momentos bons de nós dois juntos. Por um instante achei que ficaria à mercê, abandonada e sozinha, mas seu espírito sempre esteve comigo. E por mais breve que tenha sido sua presença, as lágrimas grossas e salgadas ganharam um outro sabor, de saudades e foi assim que um sorriso brotou no meu rosto. Quando a angústia se tornou alívio e a ausência se tornou presença, eu vivi, renasci.

domingo, 22 de junho de 2008

Crônica

Amo. É a mais pura verdade, que nem a morte acabou com meu amor. Só fez aumentar as saudades e os choros. Afinal, que é a morte perante o amor? Apenas um pequeno detalhe perante tanta magnitude. O fim material nunca será suficiente para declarar o fim espiritual; ainda que me caiba sonhar em vão com sua volta.
Nada mais me satisfaria do que vê-lo feliz e bem, mesmo que isso custe a minha felicidade e a minha saúde, porque o amor puro é assim: é o bem-querer acima de tudo, é a falta total e completa de qualquer sentimento de posse, é o altruísmo elevado em seu grau máximo, é a felicidade própria baseada na felicidade do outro, é uma mais-que-amizade, tão verdadeira e tão oposta quanto possa ser.
Faria tudo de novo, daria minha vida caso fosse possível, tão somente para ganhar outro riso inocente. Tudo, mas absolutamente, tudo que fiz foi pensando em você, no seu bem-estar e na sua felicidade. Ainda que sua ausência me estraçalhe a alma como um espelho atirado ao chão, sinto-me inteira por sua vida não ter sido em vão. Ainda que minhas lágrimas sejam insuficientes para fazer-lhe aquecer meu espírito gelado de dor, pranteio sua ausência como que para expurgar meu amor.
Sinto-o tanto quanto é possível, pego-lhe em sonho, no meu colo e o abraço tão forte como se o mundo fosse acabar. Minha vida ganhou outro sentido, o de honrar seu nome e fazer-me feliz como sei que gostaria, o de reconhecer-lhe em meu rosto a cada relance no espelho, o de sentir-lhe perto e quente como dantes.
Amo. É a mais pura verdade, que nem a morte acabou com meu amor. Só fez aumentar as alegrias e os risos. Afinal, que é a morte perante o amor? Apenas um pequeno detalhe perante tanta magnitude. O fim material nunca será suficiente para declarar o fim espiritual; ainda que eu sinta eternamente sua presença.