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terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Do tempo

O tempo me esquece e sinto minhas unhas irremediavelmente transformarem-se em garras. Estas adentram minha carne e me despedaçam em três. 

A tríade Aristotélica, fruto da passagem do tempo pelas minhas mãos, envelhecendo-as, engradecendo o tato, criando habilidades cirúrgicas para o conserto de minhas juntas, e para o zelo com meus calos. 

E o tempo cruel arrasta-se em triângulos desenhando minhas expressões faciais e pintando as cores do meu esmalte, e bordando as rugas dos meus risos. 

Aplica-se em minha alma a teoria da relatividade, mitigando meus dogmas e meus preconceitos, acalmando minhas preces e extirpando minhas dúvidas. A fé devorA meus encantos e meus defeitos, e a mesma fé rasga a sola dos meus pés, colocando-me em eterna provação. 

O tempo é colaborador da sapiência, e cicatrizante das feridas. Aerossol de tempus verbum.


E ressuscito a deusa que me habita o corpo, reanimando a própria com sua forca, fé e esperança. E minha deusa esquece o tempo e faz deste teu servo e teu escudeiro. E minha deusa escreve com meu sangue e deságua minha mente no papel. 

Minha mente iludida e derretida entrega a cera quente - que são minhas opiniões - aos leitores, arrancando seus cabelos sem sombra de compaixão. E minha mente, palhaça com palavras, prega pecas na deusa que habita meu corpo, e com a alma, refaz minha fé.  

E o tripé que me sustenta segue manco, compassado pelo tempo que tatua a minha pele de forma invisível, e concretiza as pegadas na calçada não famosa da minha vida. 

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Um poema

Meu coração anda assim,
compassado como um relógio.
E assim ele anda, segundo por segundo,
Passando de hora em hora
Até chegar no dia seguinte.
E começar a passar pelos mesmos números
os mesmos ponteiros
É a repetição
que marcou meu coração.

Meu coração anda assim,
leve como um balão.
E assim ele anda,
Levado pelo vento
E pousando de chão em chão.
E começa a ver as florestas e montanhas,
Paisagens nunca repetidas,
E sempre de algo novo a desviar e observar.

Meu coração anda assim,
Esperto como um gato.
Pisando de leve com o sapato,
Desassossegado a certo instante.
Mas isso não é o mais gritante,
O é o fato dele não ser mais meu.
Agora que ele e dono de seu nariz faz só o que quer.





domingo, 24 de novembro de 2013

A fuga

E meu coração resolveu escapar hoje do meu peito, pelo que reservo seu lugar para quando retornar. Ah, meu coração de personalidade própria, batimentos próprios, e que se apropriou até dos meus pensamentos.

E meu coração criou asas para voar seus sonhos, sibilando enquanto passa por colinas, e terraços. Meu coração com asas e rodas seguindo pelo túnel sem volta.

Meu coração me pega pelas mãos, e me conduz pelos entornos de tal fortaleza, e me puxa cercando as muralhas, e assim sigo delineando teu rosto e suas feições.

E meu coração fotografa o meu sorriso traiçoeiro, que te entrega completamente meus sentimentos, que te entrega completamente minhas intenções, que te entrega completamente minha alma.

E a minha alma, costurada em meu coração, é leve quando meu coração se entrega ao teu toque, e a do teu coração. Minha alma levita, ascende aos céus e às nuvens, somente por você.

E o meu coração retorna do túnel para seguir seu destino, e draga a minha alma, encoleirada, de volta. E cá estou eu, corpo com alma e coração novamente, para te amar.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O Observatório


Ah, suas decepções constantes não me preocupam mais, apenas me entristecem. Não consigo mais aceitar tal responsabilidade, não posso mais ser a culpada e a condenada por suas frustrações, por tudo que não se concretizou.

Ah, o peso de tuas escolhas não me pertencem, o quilo das tuas reações não estão ao alcance das minhas emoções e nada posso fazer. Apenas percebo os cacos de vidro adentrando a carne de meus pés, já assolados pelo metal aquecido que me impuseste como chão. Não há nada a ser feito além de esperar a tua chama perder o fôlego e se cansar de lamber meus pulsos.

Não jogue mais em minhas mãos os atos que não cometi, não sou reato de minhas reações, ante a teus estímulos injustos. Não desejo para mim as alças da tua bagagem de privações que não causei, dos sonhos que não tive, das mazelas que não trouxe.

Ó crucifixo pesado que se arrasta em meus ombros, Ó pena inchada cravada entre meus dedos, Ó coração inflamado e desinchado pelo teu desamor. ó coleira desgraçada que me prende neste cercado, E me vejo obrigada a encarnar minha sentença condenatória irrecorrível, cujo lastro probatório não participei. pago com desprazer tal indenização.

E se de ti não faço companhia,
E se de mim não há escapatória
Canto a minha translucidez ,

e transformo tua ira em solidão.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Meu coração

As saudades reverberam meus sentidos, meu tato busca tua pele, minha audição, tua voz. E quanto tempo ainda minha imaginação, miscigenada com nossas memórias, hão de te fazer as vezes, hão de ter que segurar meu coração, hão de absorver as lágrimas que insistem em aprender a voar?

As saudades causam terremotos em meus cílios, os quais buscam no horizonte algum caminho para o céu. Meus olhos abalroados pela vista infinita se fixam no chão, buscando as migalhas de pão deixadas na última caminhada.

As saudades fazem solução da minha garganta, dissolvendo minha respiração e retardando o bombeamento de sangue para minhas mãos... Estas se encontram letárgicas, aguardando a vivacidade de outrora para quando se encontrarem nas suas costas.

As saudades delineiam o contorno do meu rosto, cometendo graves expressões e apontando formas e atos novos para meu semblante. Este sorri pelas lembranças e resta nostálgico pelo presente.

As saudades me chamam e brincam com meus sentimentos, e transformam tudo em desejo; O desejo de te ver de novo.

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Pele

A minha pele descama e revela o que já não admito mais sentir.
A minha pele dilui seu encanto e te chama, aqui.

A minha pele sardenta, sangrenta e santa,
Em chamas.
A minha pele alivia a dor de ser de carne e choro.
A minha pele me esconde da vontade do mundo, e da tua.
A minha pele se fez de casaco, para te agasalhar nos dias frios.
E se fez de bolsa, guardando o meu coração pra você levar.
O toque, a tecla, o tique e a mão atada servem minha pele.

Na tentativa de te tentar... 

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O jazz do coração

E as batidas do meu coração ressoam como sinos na madrugada gelada, causando calafrios nos ouvintes solitários, causando balbúrdia nas ondas sonoras com as quais cruza. Ouvem-se com perfeição cada toque de hora, mas não é uma hora comum. A minha hora não se reúne em minutos, nem em segundos, mas em risos. E cada hora passa mais rápida ou mais lentamente, a depender da distância entre a tua presença e os meus sentidos.

E como um trem a vapor, segue quase descarrilando, deixando-se torrar pela caldeira quente em que minha linfa se transformou. Apitando próximo às aldeias, chamando teu nome com um assobio forte, quem sabe em qual delas estará?

Segue, Maquinista, segue avante, diz-lhe meu som. Ponha lenha na minha caldeira, deixe-me queimar, deixe o fogo consumir o que restou de mim.

Mera ferrovia, esta é a definição da minha esperança, e as batidas do meu coração seguem soando, trilhos afora, o que espero do futuro. Expectativas devidamente demarcadas entre duas paralelas de ferro, e estas dão a volta ao mundo.

E meus trilhos dourados, assim como os tijolos de Dorothy, levam-me ao destino, levam-se ao acaso, levam-te junto. Seguindo pelos belos campos, subindo montanhas, descendo penhascos, em alta velocidade, e apreciando a paisagem que construímos pingo a pingo, numa linda pintura pontilhista.


E meu coração direciona o som de seu tamborilar, per-seguindo outro trem, que emite outro som, outras batidas de outro coração. 

sábado, 3 de agosto de 2013

As lembranças


Minhas lembranças acumuladas me animam o corpo, forçam meus músculos à contração, à distração e a concentração. Concentro-me em ti, em mim, e no mundo. Concentro-me no ambiente do qual escapo agora, e do qual (ao mesmo tempo) me agarro.

Minhas fibras musculares deslizam com facilidade pelas metáforas que crio, pelas imagens sinestésicas que descrevo, sentindo no cheiro a tua pele, tateando as cores do teu cabelo, observando com calma a tua voz. Meus sentidos se misturam e nada percebo como se tudo fosse.

Traciono minhas memórias tentando infrutiferamente te reconstruir na minha íris, dentro do box do chuveiro, dentro do cheiro do meu sabonete. E eu me arranho, cavo minhas unhas arrancando a derme que me cobre, arrancando os pelos que me eriçam, sou carne e sangue para mostrar. Sou a carne tenra que enche a boca das feras todas as noites, alimento dos lobos selvagens.

É assim que me vê todas as noites, sem pele e com sangue escorrendo. Meus músculos e tendões expostos, meu coração e meu fígado expostos, meus ossos e meus pulmões expostos. É assim que me sirvo aos lobos selvagens, é assim que alimento aos meus.

Foi assim que quis aparecer todas as noites, sem armadura e com lágrimas nos olhos. Meus desejos e vontades expostos, meus sentimentos e emoções expostos, minhas estruturas e fôlego expostos. Foi assim que resolvi encarar o mundo, foi assim que resolvi cuidar de quem amo.

Sou uma marionete, um Pinòcchio desejando ser menino de verdade, mas não tenho cordas. Tenho história, passado e futuro. Meus movimentos foram milimetricamente calculados, e ainda assim saí da rota planejada. Ah, essas marionetes que desejam sem meninas de verdade! Ah, essas marionetes que pensam ter vontade própria e mudam seu destino sem sequer perceber.

E como toda boa poeta inconsequentemente escrevi meu futuro num rascunho de papelão, o qual delicadamente contorci para dentro de uma garrafa e lancei ao mar, na esperança de que alguém a apanhasse e se compadecesse de mim.

E agora, poeta? Responde-me que fará com meu rascunho. Meus olhos se cerram por hoje, mas abrirão e lerão meu papelão de rascunho com calma quando terminar.


sexta-feira, 26 de julho de 2013

A poetisa

Eu nasci assim, com penas no lugar dos dedos, com tinta no lugar de sangue, com metáfora no lugar da lógica. Meus neurônios não se conectam, mas se consolam. E choram, e amarguram, o triste fim da poetisa. Ó querida, cadê teu orgulho? Cadê tua poesia? Foram embora, respondo com calma. Fui abandonada pela inspiração, pela transpiração da escrita, pelo tremor da noite que me consumia os nervos. Fui deixada pela lava que outrora queimava a sola dos meus pés e me lancinava a calma. Cadê aquele fogo que me atormentava? Cadê aquela quentura que me incitava a choramingar, a respingar minha alma pelo chão.

Mas não, ora percebo que o inferno ainda está sob meus pés, ora vejo que a brasa derrete minha pele e lambe meu calcanhar. Triste poetisa, escreva teu nome na areia e assista à onda do mar apagá-lo, e repete, repete, repete. E repentinamente perceba que o mar cada vez menos apaga teu nome, e que deixa tua marca no mundo. E o teu sangue azul risca o céu, confundindo-se com o reflexo do oceano, e os teus dedos de pena desenham a tristeza no oceano, refletindo-a no céu.

E segue tudo azul, tudo blues, ao som de Nina Simone, ao som das nuvens no céu, que reproduzem calmamente as ondas do mar. E a minha língua sufoca, incha-se de frases não ditas, perguntas não feitas, dúvidas respondidas pela imaginação. E a minha língua se contorce, soletrando o alfabeto do futuro. E a minha língua desinfla, aliviando o peso dos planos outrora abortados. Cerro os dentes, a fim de segurar comigo as lembranças mal dormidas da minha história.


Mas para que tanta história, Poetisa? Por que guarda seus livros anuais de acontecimentos e aborrecimentos? Por que conserva tua caixinha de bobeiras, cheia de embalagens dos sorvetes tomados na tua vida toda? Não posso me dar ao luxo de responder a todas essas questões, não preciso de motivo para guardar o que eu acho que usarei no futuro, e do que tenho certeza que uso no presente. Não hoje, hoje a nostalgia transcendeu a minha alma de poetisa, hoje minhas sapatilhas de bailarina estão cobertas pelo meu sangue, riscando o palco com meu balé provinciano e desenhando meu rosto. Não hoje, hoje choro minhas faltas, implorando pela redenção que nunca chegou, pagando pelos pecados que não cometi, pelas promessas que cumpri, pelos meus acertos, por tudo que ainda resultou no meu fracasso. Hoje não, hoje eu sou mistério policial, hoje eu sou feita de elementos surreais, hoje eu cansei. 

quinta-feira, 18 de julho de 2013

O Vestido




E o meu coração resolveu bater forte hoje. E no meu vestido se percebe a marca da aceleração do pulso, marcando o tecido e desenhando espirais pelas minhas curvas. Pernas eriçadas e pelos cruzados, esperando.

Ó Édipo, tu mataste a esfinge que havia em mim, desvendou os mistérios do portal Tebano, transformastes-me na filha de Asopo, tiraste-me a inquietação para introjetar o sossego nas minhas artérias. 

E o meu vestido roda sozinho, sem qualquer vento, sob a bandeira nacional, parece até que tem vida própria, bailando ao som do teu riso e comemorando tantas despedidas quantas forem necessárias, sabendo da brevidade de cada uma delas.

As linhas do tecido formam uma trama forte, um verdadeiro emaranhado de ideias, complicações, sentimentos e sensações, desfiando as mazelas do cotidiano, bem como, desfilando a última moda parisiense nas calçadas.

-Que bela moda, da mais alta costura. Transformou em boneca de luxo aquela menina de porcelana arranhada.
- Que bela moda, muito mais refinada. Agora todos desejam ser menina encantada.

E o tecido fora tingido, antes mesmo da tosa, tingido pela alegria do sol, e pela seriedade da lua. Tingido pelo sorriso do campo e pelas pegadas da ovelha. Tingido pelo menino do pastoreio, que afagava aquela lã preciosa e bruta com amor. E quando a lã foi retirada da ovelha, e quando a lã foi fiada e tramada, e quando a lã virou tecido, já restava impregnada a sua cor.

Em vão tentou a costureira moldar teu corte, em vão tentou a costureira tirar-lhe a vivacidade, que sempre existiu no vestido. Ele nasceu para ser assim, vívido, radiante, contagiante. É um tecido de bolinhas, feito catapora, que adoece todos os corpos que o vestem, contaminando-os com sua alegria esporádica e frequente (ao mesmo tempo). E todos aqueles corpos enfermos, cheinhos de pintinhas, cheinhos de risinhos, cheinhos de canções e feijões mágicos, fluíam despercebidos pelo trânsito, feito epidemia, feito pandemia. Uma invasão invisível e terrível na alma humana.

E o vestido seguia pelo salão, bailando solitário, aguardando o paletó para dançar colado, aguardando que o paletó lhe trouxesse sua bebida refrescante, aguardando que o paletó (aquele paletó específico) lhe acompanhasse até o guarda-roupas para o enlace. O paletó de sarampo.


terça-feira, 2 de julho de 2013

Reflexos

A minha vida é como uma sala de espelhos, dessas que têm em parques de diversões, com muitos espelhos que te engrandecem, encolhem, emagrecem, engordam. Espelhos líquidos, em que se deve ter a cautela de não encostar, caso em que poderá (sem querer) cair do outro lado. Não se saberá o que é real, e o que é fruto da imaginação.

E a cada espelho me enxergo diferente, ora mais econômica, ora maior. Assim como minha imaginação, ora águia, ora pardal. Mas sempre criando por aí, sonhando, desenhando belos olhos num pedaço de papel. E por esses olhos que desenho que enxergo o mundo, do outro lado do espelho, e vejo o mundo em cores inexistentes no mundo real, cuja frequência é imperceptível ao cérebro humano. Mas apenas visualmente imperceptíveis, dado que no lado real do espelho se percebe o tato e o olfato, apenas com outros sentidos.

Desta forma somos reflexos de nossas percepções, dos nossos sentidos e dos nossos sentimentos. E somos espelhados, frutos de tais reflexos, nas ações e nas palavras que cotidianamente exprimimos um pouco mais a cada dia. E somos reféns, das consequências das ações e das promessas ditas em razão dos tais reflexos. Escolhas feitas de forma intensa e sob circunstâncias únicas, visando tornarmos reféns de uma situação pretendida há muito.

Por assim, torna-se refém da própria liberdade, antes uma imposição, mas agora uma escolha. A liberdade consiste nas escolhas. E hoje em dia podemos escolher tudo, o que dizer, o que comprar, para onde ir, e para qual espelho olhar. A língua italiana tem um verbo fabuloso, specchiare, que significa exatamente se olhar no espelho.  E eu me specchio todos os dias, apreciando as mudanças que causei, e me deleitando com a coautoria do meu próprio reflexo.

E o que é real? E o que é imaginário? Já não posso mais dizer, ambos planos se fundiram, formando um mundo só, o meu. Procuro com delicadeza aprender a distinguir o que existe daquilo que criei, e sigo como Ismália.


sábado, 22 de junho de 2013

Esfinge


E os meus pensamentos voam longe, feito andorinhas, tentando adivinhar os meus futuros conforme esbarro nas encruzilhadas da vida. Mas assim como uma andorinha não faz verão, cada um que se passa na minha cabeça não me toma. E a minha mente continua seu passeio pelas possibilidades, pelas catástrofes e pelos jardins. E a minha mente continua seu passeio, sem a paciência de outrora, com medo da pressa imperfeita, com medo dos monstros que me espreitam, com medo dos cacos da flor de vidro que derrubei no chão. E a minha mente continua seu passeio, entre os arranha-céus que construí com orgulho na minha cidade imaginária, entre as casas modestas no campo em que eu reservava para meu refúgio, entre o lago de carpas brancas e laranjas que retinham minhas lágrimas.


E os meus pensamentos voam longe, como um balão de ar quente que testa as correntes do vento, deixando-me testar pelo pelos meus sonhos, meus desejos e meus objetivos. E como um castelo de cartas desmoronado, causam-me o riso. Não posso controlar o incontrolável, não posso pedir o impedível, não posso querer que tudo seja como era antes. Aliás, sequer quero como era antes, eu gostaria que fosse como eu desejava antes.

E os meus pensamentos cavam a terra, a fim de me enterrar consigo.  Mas por outro lado, constroem um morro com a terra cavada, no qual me habilito a subir e a enxergar o mundo com um otimismo nunca antes permitido. O céu está lindo hoje, cheio de nuvens para lembrar como é boa a incerteza.

E os meus pensamentos se cansaram de tanto andar, de tanto rodar em círculos sem chegar a lugar nenhum, como se fossem ponteiros de relógios que repetem a vida toda os mesmos números, e o mesmo compasso. E neste compasso continuo tentando achar lugar nenhum, ou algum, seja para me esconder das conclusões que me passam pela cabeça, seja para me afugentar nas conclusões que chegam à tua cabeça.

E os meus pensamentos são como porcos-espinho, desses que com cuidado e paciência se consegue tocar o coração, mas que com brutalidade apenas te ferirão. É o caso famoso da flor que se transformou em porco-espinho, quando Dr. Jekyll deixou sua poção cair na jardineira. Esse porco-espinho que se tornou minha mente é uma verdadeira esfinge: decifra-me ou devoro-te.



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Marceneiro

Os meus versos estão desgastados pelo passado e pelo Futuro.
O primeiro é uma lixa que me machuca a pele,
E não me deixa esquecer do que vivi.
O segundo é a água que leva minha poeira embora,
Cachoeira abaixo, sem qualquer visão da altura,
Ou do que vem depois da queda.
E juntos são o par perfeito,
Te moldando e transformando ao longo do tempo,
E te levando para onde precisa chegar,
Com pressa. compressa.
Sinto a erosão no meu self,

Acabamento polido. 

domingo, 16 de junho de 2013

A boneca.

Eu sou pedaços desencontrados de cerâmica, que um dia formaram o desenho do meu sorriso, e ontem se encontravam espalhados pelo chão. E hoje tento juntar minhas mil migalhas varridas para o canto do quarto, e achei um pedaço do meu coração no meio do farelo do cérebro. Este se espatifou e se moeu, de tanto pensar e sem achar solução.

Meus delicados dedos de porcelana encontram-se desencontrados pela tua escrivaninha, com os esmaltes gastos pelo tempo que esperei para tocar na tua mão. Esperam a oportunidade em que você colocará cada dedo meu no devido lugar na minha mão, refazendo meu toque e meu tato sobre ti.

De íntegros apenas restaram meus olhos, melados pelo dissabor do rompimento do meu ser. Mas que mantém ainda o poder se observar o seu arredor e julgar com todas as forças. Meus olhos melados que te guardam ao som de blues, e despejam sua surpresa sobre o mundo.

E amanhã eu comprarei cola, para consertar minhas pernas.  E poder seguir em frente, pelos caminhos que escolher. Junto meus cacos, e vejo como posso me refazer da queda.


Ser uma boneca de porcelana tem suas desvantagens. 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Do coração e da mente

O meu coração é como um desses relógios velhos, cheio de engrenagens interligadas que só funcionam em conjunto. Por isso digo que não adianta roubar umas poucas delas, só poucas não fazem meu coração bater. Mas o fazem parar. E quando ele para minha vida perde a cor, sem sangue bombeado para alimentar os olhos, nem as pernas para andar e olhar em outras direções.

Mas como um velho relojoeiro, conserto o coração, invento novas engrenagens, gambiarro as interligações, e ponho tudo a perder de novo. Coração batendo, vida seguindo, lágrimas rolando. E assim meus passos seguem, robotizados, afinados e sintetizados por um coração cheio de engrenagens.

O coração cantarola sua música enferrujada, rangendo sua amargura e entoando seu triste canto por todos os cômodos que entra. A presença de tal ruído assusta num primeiro momento, depois desanima todos os seus expectadores e os transporta a um estado de plena compaixão e melancolia.

Pobre coração, esse meu. Todo reinventado para continuar batendo, todo cheio de peças não-originais, fora de seu modelo e que não encaixam tão bem. Todo remendado, costurado, superbondado para ficar inteiro, parece uma dessas obras de arte feitas com cascas de ovo, que de encaixam, mas não estão mais contínuas. Ah sim, porque hoje eu estou cheio analogias, e de neologismos, mas tudo tem sua razão. Por hoje minha voz foi cortada sorrateiramente, e tudo que é importante para mim se tornou seu gole amargo de café frio.

E nisso minha mente constrói grandes pontes e arranha-céus, tentando olhar de longe e de cima, de uma nova perspectiva para entender o que se passa com esse coração. E minha mente é um helicóptero, um mosquito grande e audaz, que é capaz de parar no ar, voar para onde quiser e pousar em quase qualquer lugar.

Minha mente é um helicóptero de guerra, armada, com metas e objetivos, bombas e soldados. Minha mente é feita para a guerra.

Mas não qualquer guerra, mas a guerra de pensamentos, de argumentos, de encanamentos e de chamamentos. E eu perco, perco mais e mais. Batalhas e mais batalhas perdidas, mesmo as ganhas. Porque não sinto que as ganhei. Talvez nem queira sentir o sabor da vitória da guerra , ou talvez já senti e não gostei. Não sei.

É essa a guerra entre a mente e o coração, os dois sentem que perdem, e os dois caem ao final. belo espetáculo. 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Sonhei...

Sonhei com você,
Sonhei que sairia dos meus sonhos
e me encontraria aqui
Prostrada
Esperando uma outra oportunidade
de recomeçar.

Sonhei que você não iria dirigir meu carro
Mas você era o responsável pelos mapas, pelas rotas e pelos destinos.
E você saiu dos meus sonhos
e traçou uma nova rota,
para mim.

Sonhei com você,
com o teu sorriso moleque,
com cabeça cheia de asas, pronta para voar.

Sonhei com você,
E mesmo acordada, continuo sonhando.
Sem acreditar na realidade.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Piangeme un fiume

Ciao, Morte. 
Qui noi ci guardiamo, uma volta più, in mezzo de questo nero fango, nero come la notte. 
Io non piangerò una volta più, non in questa volta più. 
Non è più Il momento, questo è finito. Il momento è perso in mezzo al passato. 
Il passato inerte ed imperceptibile de quella fiore. 
O passado inerte e imperceptível daquela flor. 
La fiore Bianca, Che outrora era apparteneva degli amanti, ma oggi appartenga a te.

Ciao, Morte.
Nostro raporto è diventato troppo intimo,
Troppo invasivo,
Troppo perturbadore.
Ma non sono io,
Il problema, chiaramente, sei tu.

Dai, Morte.
Tu sei come un jazz cattivo.
Il suono è divertente, ma la lettera è deprimente.
Andiamo a ballare un pò.
Andiamo a fare della nuostra vita un bel posto
Voglio parlarte del jazz, dellla musica, della morte.
Ci vediamo un altro giorno, Morte.