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sábado, 22 de junho de 2013

Esfinge


E os meus pensamentos voam longe, feito andorinhas, tentando adivinhar os meus futuros conforme esbarro nas encruzilhadas da vida. Mas assim como uma andorinha não faz verão, cada um que se passa na minha cabeça não me toma. E a minha mente continua seu passeio pelas possibilidades, pelas catástrofes e pelos jardins. E a minha mente continua seu passeio, sem a paciência de outrora, com medo da pressa imperfeita, com medo dos monstros que me espreitam, com medo dos cacos da flor de vidro que derrubei no chão. E a minha mente continua seu passeio, entre os arranha-céus que construí com orgulho na minha cidade imaginária, entre as casas modestas no campo em que eu reservava para meu refúgio, entre o lago de carpas brancas e laranjas que retinham minhas lágrimas.


E os meus pensamentos voam longe, como um balão de ar quente que testa as correntes do vento, deixando-me testar pelo pelos meus sonhos, meus desejos e meus objetivos. E como um castelo de cartas desmoronado, causam-me o riso. Não posso controlar o incontrolável, não posso pedir o impedível, não posso querer que tudo seja como era antes. Aliás, sequer quero como era antes, eu gostaria que fosse como eu desejava antes.

E os meus pensamentos cavam a terra, a fim de me enterrar consigo.  Mas por outro lado, constroem um morro com a terra cavada, no qual me habilito a subir e a enxergar o mundo com um otimismo nunca antes permitido. O céu está lindo hoje, cheio de nuvens para lembrar como é boa a incerteza.

E os meus pensamentos se cansaram de tanto andar, de tanto rodar em círculos sem chegar a lugar nenhum, como se fossem ponteiros de relógios que repetem a vida toda os mesmos números, e o mesmo compasso. E neste compasso continuo tentando achar lugar nenhum, ou algum, seja para me esconder das conclusões que me passam pela cabeça, seja para me afugentar nas conclusões que chegam à tua cabeça.

E os meus pensamentos são como porcos-espinho, desses que com cuidado e paciência se consegue tocar o coração, mas que com brutalidade apenas te ferirão. É o caso famoso da flor que se transformou em porco-espinho, quando Dr. Jekyll deixou sua poção cair na jardineira. Esse porco-espinho que se tornou minha mente é uma verdadeira esfinge: decifra-me ou devoro-te.



quarta-feira, 19 de junho de 2013

Marceneiro

Os meus versos estão desgastados pelo passado e pelo Futuro.
O primeiro é uma lixa que me machuca a pele,
E não me deixa esquecer do que vivi.
O segundo é a água que leva minha poeira embora,
Cachoeira abaixo, sem qualquer visão da altura,
Ou do que vem depois da queda.
E juntos são o par perfeito,
Te moldando e transformando ao longo do tempo,
E te levando para onde precisa chegar,
Com pressa. compressa.
Sinto a erosão no meu self,

Acabamento polido. 

domingo, 16 de junho de 2013

A boneca.

Eu sou pedaços desencontrados de cerâmica, que um dia formaram o desenho do meu sorriso, e ontem se encontravam espalhados pelo chão. E hoje tento juntar minhas mil migalhas varridas para o canto do quarto, e achei um pedaço do meu coração no meio do farelo do cérebro. Este se espatifou e se moeu, de tanto pensar e sem achar solução.

Meus delicados dedos de porcelana encontram-se desencontrados pela tua escrivaninha, com os esmaltes gastos pelo tempo que esperei para tocar na tua mão. Esperam a oportunidade em que você colocará cada dedo meu no devido lugar na minha mão, refazendo meu toque e meu tato sobre ti.

De íntegros apenas restaram meus olhos, melados pelo dissabor do rompimento do meu ser. Mas que mantém ainda o poder se observar o seu arredor e julgar com todas as forças. Meus olhos melados que te guardam ao som de blues, e despejam sua surpresa sobre o mundo.

E amanhã eu comprarei cola, para consertar minhas pernas.  E poder seguir em frente, pelos caminhos que escolher. Junto meus cacos, e vejo como posso me refazer da queda.


Ser uma boneca de porcelana tem suas desvantagens. 

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Do coração e da mente

O meu coração é como um desses relógios velhos, cheio de engrenagens interligadas que só funcionam em conjunto. Por isso digo que não adianta roubar umas poucas delas, só poucas não fazem meu coração bater. Mas o fazem parar. E quando ele para minha vida perde a cor, sem sangue bombeado para alimentar os olhos, nem as pernas para andar e olhar em outras direções.

Mas como um velho relojoeiro, conserto o coração, invento novas engrenagens, gambiarro as interligações, e ponho tudo a perder de novo. Coração batendo, vida seguindo, lágrimas rolando. E assim meus passos seguem, robotizados, afinados e sintetizados por um coração cheio de engrenagens.

O coração cantarola sua música enferrujada, rangendo sua amargura e entoando seu triste canto por todos os cômodos que entra. A presença de tal ruído assusta num primeiro momento, depois desanima todos os seus expectadores e os transporta a um estado de plena compaixão e melancolia.

Pobre coração, esse meu. Todo reinventado para continuar batendo, todo cheio de peças não-originais, fora de seu modelo e que não encaixam tão bem. Todo remendado, costurado, superbondado para ficar inteiro, parece uma dessas obras de arte feitas com cascas de ovo, que de encaixam, mas não estão mais contínuas. Ah sim, porque hoje eu estou cheio analogias, e de neologismos, mas tudo tem sua razão. Por hoje minha voz foi cortada sorrateiramente, e tudo que é importante para mim se tornou seu gole amargo de café frio.

E nisso minha mente constrói grandes pontes e arranha-céus, tentando olhar de longe e de cima, de uma nova perspectiva para entender o que se passa com esse coração. E minha mente é um helicóptero, um mosquito grande e audaz, que é capaz de parar no ar, voar para onde quiser e pousar em quase qualquer lugar.

Minha mente é um helicóptero de guerra, armada, com metas e objetivos, bombas e soldados. Minha mente é feita para a guerra.

Mas não qualquer guerra, mas a guerra de pensamentos, de argumentos, de encanamentos e de chamamentos. E eu perco, perco mais e mais. Batalhas e mais batalhas perdidas, mesmo as ganhas. Porque não sinto que as ganhei. Talvez nem queira sentir o sabor da vitória da guerra , ou talvez já senti e não gostei. Não sei.

É essa a guerra entre a mente e o coração, os dois sentem que perdem, e os dois caem ao final. belo espetáculo. 

terça-feira, 4 de junho de 2013

Sonhei...

Sonhei com você,
Sonhei que sairia dos meus sonhos
e me encontraria aqui
Prostrada
Esperando uma outra oportunidade
de recomeçar.

Sonhei que você não iria dirigir meu carro
Mas você era o responsável pelos mapas, pelas rotas e pelos destinos.
E você saiu dos meus sonhos
e traçou uma nova rota,
para mim.

Sonhei com você,
com o teu sorriso moleque,
com cabeça cheia de asas, pronta para voar.

Sonhei com você,
E mesmo acordada, continuo sonhando.
Sem acreditar na realidade.