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quinta-feira, 20 de março de 2014

Confissões

Eu confesso minha culpa,
Em sempre achar capivaras expiatórias,
Confesso minha falta de jeito, a da minha visão...
Eu só vejo bodes e cabras,
Não enxergo tuas capivaras.

Confesso ao meu espelho as lágrimas que não permito que escorram em meu rosto, a ilusão que não me é permitida guardar em meu peito. Minhas divagações criaram asas para fugir pela minha janela e criar um sonho paralelo, em razão da ausência da própria realidade. Confesso meu reflexo imperfeito e repelente.

Eu confesso meu nascimento
Meu crescimento

Meu não desenvolvimento
Como imaginado e querido.

Confesso loucamente minha lucidez enquanto que deságuo em meus lençóis, minha hidratação não é reposta com groselhas ou refrigerantes. Minha hidratação não se repõe.

Eu seco,
E ressequida, sou esmigalhada como as folhas secas.
E meus restos são levados ao vento

E assim fico varrida num canto do quintal. 

sexta-feira, 7 de março de 2014

Arrivederci

A tristeza me pegou de jeito hoje. Sinto que aquele desenho de ossos encapuzados criou vida e bate na porta das pessoas, anunciando a brevidade de nossa consciência. E a perpetuidade das minhas memórias... Será que vou sempre me lembrar de ti? 

Eu não tenho lágrimas suficientes para salgar tua carne, e me juntarei aos teus outros amigos no teu processo de mumificação, e poetaremos teus feitos e não-feitos (como se feitos tivessem sido), e te manteremos vivo como a musa de Camões.

Ah, meu amigo. As perdas se acumulam como um punhado de pedras nos meus bolsos enquanto tento atravessar o rio. E a cada braçada me sinto mais pesada e preciso de mais força para seguir.

A dor me é infinita, e hoje me resigno a senti-la vibrante em minhas artérias, perfurando  meus órgãos e cegando meus olhos. Minha visão cega tromba nos mesmos móveis que sempre estiveram no mesmo lugar, e sinto novamente a (in)segurança de que está tudo igual.


As estrelas não me consolam, nem a lua, nem o céu. Nem mesmo o céu. Nos encontraremos um dia, meu caro.