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domingo, 6 de dezembro de 2015

A espera



Os anéis apertam os dedos, apertam o sangue, que chega apertado ao coração. Os anéis tintilam nos dedos, arranham as unhas, afogam a pele num suor de ansiedade. Os anéis estimulam e intermedeiam os impulsos cerebrais no sangue. Os anéis deduram o medo, os desejos e os pensamentos.
Os dedos arranhados e enforcados tamborilam entoando hinos e rimas, entoam angústias em ritmo quarteto, entoam a impaciência da espera, do aguardar de uma resposta importante, entoam o sobressalto de um toque do celular. Os dedos apertados se esticam e se comprimem alcançando  
As mãos inchadas de líquidos retidos, de dores comprimidas e lágrimas engolidas, não podem fechar os dedos, deixando de agarrar as menores esperanças, vendo-as esvair-se pelos vãos. As mãos inchadas, comprimidas e espalmadas se sobrepõem ao coração, tentando arrancar o aperto da pressão sanguínea. As mãos inchadas, cheias de anéis apertando dedos arranhados, massageiam o coração ansioso e nervoso.
O coração apertado e pressionado pelo sangue aguarda uma resposta importante, angustiado e arranhado, ansioso por um toque no celular.


sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Poetando a mente


Quem quer poesia? Quem poeta o marasmo e a euforia. Quem poeta a vida em sintonia ao encanto. Quem poeta a simpatia, entretanto; Entre tantas belezas e algozes, belezas velozes que se arriscam a manchar de sorriso um rosto cansado. São eles que querem a poesia.

A poesia é necessária ao corado da face, ao vermelho da boca feminina, à firmeza do enlace, e à fatalidade da estricnina. A poesia preenche os vácuos do espaço sideral, e a poesia esvazia as angústias da alma.

O poetar é luxo, é consumo impróprio em qualquer idade, é absurdo cósmico, é conexão com a eternidade. O poeta é ser etéreo, é estar em eterna sublimação, evaporando aos poucos sem liquidar a sua razão. O poeta absorve o mundo como uma esponja, e quando seu coração se aperta, libera o líquido amniótico da poesia.

Quem quer poesia? Qualquer um.

sábado, 12 de setembro de 2015

Saudades de uma Belinha


Meu coração repartido, dividido e ludibriado está descascado hoje. Meu coração despedaçado e picado arde intensamente. Meu coração está clichê, e sente saudades por antecipação, meu coração ama você, e insta em negar nossa separação.

Meu coração aspirou ilusão em querer você por uma vida; A ilusão o tomou, porque permiti, e esmigalhou meu coração em cacos incontáveis, inseparáveis e incoláveis. Meu coração iludido te viu partir, sem qualquer sorriso. Meu coração iludido te pediu para ficar, sem sucesso. Meu coração tinha esperança. Minhas esperanças racharam e deixaram que você vazasse por entre meus dedos, em meio a meus braços.

Minhas esperanças se juntaram aos cacos do coração e não se encaixam mais, seguem costuradas de forma chula com barbantes rústicos. Minhas esperanças costuradas, remendadas e frágeis não esperam mais. Não me esperem mais.


Meus cacos entristecidos, desiludidos e descascados não querem se juntar hoje, repelem-se e preferem restar partidos. Meus cacos emudecidos e repelidos choram oram. Meus cacos doem. 

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A Escultura

Estou em processo de criação, recreação e mineração. Cavo minhas pálpebras buscando os sonhos que já esqueci. Cavo meus olhos buscando os horizontes nos quais me perdi. Cavo com minhas mãos a terra que já me engoliu. Meu processo de ressureição, desenterrou-me das pedras e pôs me deitada em levitação.

E assim, flutuando, sou dirigida para os ventos do norte, teleguiada por satélite, teletransportada pela internet, meus pés flutuando e desenhando meu destino. Estou em processo de aperfeiçoamento, sofrimento e assoreamento. Arenosa, me acumulo nos vãos das lágrimas de meus olhos, e os impeço de transbordar, e os seco, e os vitrifico de uma vez.

E como numa ampulheta, deságuo na boca, secando as palavras e dissecando os dizeres e absorvendo sentidos. Esculturo estátuas e antíteses, esculpo meu próprio estatuto e disformo o estuário; uníssona sou conformada, contornada e consolada. Meu desenho de mim ganha alma, e permaneço.


segunda-feira, 15 de junho de 2015

Instinto

Seu instinto me intriga, mas me instiga a lhe amar intrinsecamente na mesma moeda com que me incita a memorizar tua mão, tua pele, teu toque, teu todo tudo.  excitação e expiação, no mesmo lado da cama, na mesma inspiração e respiração.

O meu instinto espira pelos meus poros e te respiram em suas entranhas, mas minha mente te expira o sono, espia seu sono e extingue os tormentos do futuro impróssimo.

Instintivamente insistimos na incisão das lembranças, e na inserção de novas recordações, exposições, explorações e exortações no coração dos ingênuos amantes, nossos.


Meu instinto cria vida, e dá valor a tal, por isso eu insto: te amo

domingo, 19 de abril de 2015

Sentidos



Roubou minha retina e levou a lucidez dos meus olhos em sua bagagem. Enxergo embaçado até seu retorno. Meu olhar perdido e desligado te procura sem sucesso, as paredes já não escutam sua voz respondendo à minha.  Meus olhos destilados e roubados dilatam as pupilas e absorvem mais do ambiente, rastreando seus traços, seus cheiros, seus passos.


Minha visão periférica abalroa os demais sentidos e toma de assalto o meu coração, que apenas enxerga seus rastros pela casa, pelas trilhas e por todo o tempo. Suas marcas indeléveis  lançadas pelos ares são irresistíveis e me magnetizam. Sinto sua falta. 

quarta-feira, 11 de março de 2015

Campo de Concentração

Como uma gaita de fole minha mente expele suas entranhas aos olhos em forma de chamas, gás venenoso e inflamável de minhas estranhas, gás perdido e inimigo de minhas entrâncias, gás dissolvido nas estâncias do corpo.

Minha mente raivosa como uma gaivota plaina um oceano de conjurações e conjugações. E se fosse o verbo conjugado no presente, poderia talvez conjugá-lo de forma diversa no futuro do pretérito; Se eu dispuser da conjugação do verbo da minha vida desta forma, como se tivesse havido demais escolhas melhores no pretérito perfeito, o arrependimento será outro?

Verbos e verbetes, escolhas e decisões, atos e consequências. Meus olhos embaçados pelo gás envenenado da minha mente rege seu império, defende seu ponto de vista, e cautelosamente escolhe as pedras que pisará em seu caminho. Meus lábios emudecidos aceitam as resoluções e portarias oculares são questionar...

Meu pulso sobressaltado acelera e anseia o rumo, preparando-se para a caminhada árdua. Meu pulso é lembrado ritmicamente de suas responsabilidades, habilidades, capacidades e fragilidades, meu pulso acelera com o aumento da pressão.

Como um saxofone minha mente swinga soluções e partituras, minha mente é musicada e concentrada, várias em uma .


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A Invenção da poesia


Dos meus dedos correm tramas, dramas relatados sem emoção. Dos meus lábios saem palavras cruzadas, histórias atrasadas e de repetição, além de estórias da carochinha, contos de fadas e bruxas, dentre outras invenções. Dos meus dedos correm mares inteiros, navios negreiros, navios obreiros.
Dos meus dedos corre a criação do mundo, da realidade mais profunda.

Os meus olhos leem os rabiscos, leem os hieróglifos, e os apócrifos. Meus olhos leem tatuagens, expressões faciais e risos infantis, interpretam a trama, criam o drama e o enchem de enredo e presunções, meu coração palpita, angustia e anseia pelo final. Meus olhos preenchem as lacunas cruzadas de histórias repetidas de pessoas históricas cruzando um mar inglês.

Os meus olhos veem o mar levando embora milhares de sonhos e pesadelos ao fundo, os meus olhos veem as histórias mudando, se desenrolando e alterando o fim. O mote é complexo, os personagens sobressaem, desejam e traem, feito Eva e Adão.