Pages

domingo, 21 de setembro de 2008

Crônica de alguém que ama

Sente-se o amor completo quando a carne não completa o espírito, este se eleva sozinho e escorre por dentre os dedos desmanchado pelo suor. A pele quente escaldada pelo vapor não esfria com o gélido vento, também o aquece pelos vãos da parede em que fora construído. O vapor de amor consome as entranhas, sangra enquanto dilui o próprio sangue em emplastos misericordiosos.

Amar não dói, ser correspondido, sim. Criam-se expectativas, que serão cumpridas, ou não. Nunca se sabe. Nunca se pode saber. Perde a graça o conhecimento do futuro. Amor é feito de sonhos, fantasias baseadas numa realidade. Corresponder significa acreditar no surreal, ser surreal também, compartilhar do mesmo sonho que é construir uma igual realidade. Corresponder dói porque é compartilhar da dor alheia e dar ao outro suas próprias alegrias; porque é se entregar e perder o controle das próprias pernas; porque é ser envolvido por um torpor que nunca pode acabar.

Nada pior que amar e ser correspondido, começam as obrigações para consigo mesmo. O mesmo fervor ao sentir a água pingar nula nos dias de inverno sente-se quando se ama. Há apenas a diferença entre os tipos de calor. É maldito aquele que ama e é correspondido. Tem que lidar com o coração dele, que é o dela; e deixar que ela cuide do coração dela, que é o dele. É idiota aquele que ama e é correspondido, fica perplexo na mais ínfima demonstração de amor. É humano aquele que ama e é correspondido, (...).

Entre amar ou ser amado, escolha os dois. É como escolher entre o inferno e o céu, queremos a tranqüilidade do céu no pecado do inferno.