Pages

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Lux laudavit procellum

Pensando bem a individualidade é o único potencial que assusta o ser humano. Ser indíviduo a ponto de ser tão único e diferente é tão abrasador à alma que deveria ser alertado que faz mal. Entendo Schopenhuer, no topo da montanha realmente todos parecem pequeninos e iguais, sem quaquer atrativo interessante para despertar a curiosidade em sabê-los. Mas não entendo Schopenhauer, esse não pode ser o certo, viver ermitado em cima da montanha. Acabo que só me resta o alfabeto, com que posso brincar a vontade até esquecer que a neve me afoga.

De sacrícios posso me dizer perita, e doei tanto que até meu hermetismo de dizer-me em terceira pessoa, ou simplesmente fundir-me ao abstrato das coisas vazou. Uma vida salva, outra perdida, a rotina parece que não muda. Quando acho que estou perto de aflorar à superfície do gelo - gelo este que construí na borda de cima do lago que caí - aparece mais uma pedra, a qual me agarro e afundo como se disso dependesse minha existência.

Não há mais leitores, nem quero que hajam. Mas se houvesse, eu diria: ó leitor, por que teimo em ganhar sabendo que nunca será meu, mas que quando eu achar que está para ser aquilo me perde de vista? No meu pulso faltou coragem ou sobrou? Um dia me disseram que é preciso mais coragem para se viver depois que se tira a capa de gloss do mundo que para abandonar todos torcendo pra ninguém mais espie por debaixo da lona.

A magia nunca foi tão tempestuosa, igual nos filmes, os raios dão tanto medo que até hipnotizam e te fazem tirar fotos de tão bonito. Mas, o que é um raio senão um pingo de luz, geralmente conhecemos pingos de água, mas raios são pingos feitos de luz. A luz que de tão vibrante e densa destrói tudo que vê pela frente. Lux laudavit procellam.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Alusões

A calefação do corpo, proporcionada pelas próprias células em seu metabolismo automatizado, insistência desproporcional, é descabimento de sentido. O calor propaga e contamina, infectando de ilusões os corpos almados de efemeridade, é a cruz e o carma, foi luz e será farda. As botas são apenas metáfora, não há proteção contra o lodo, e nem deve haver; nossos vermes são os instintos, que nos puxam da realidade como se isso nos isentasse de presenciá-la.

A verdade é desesperadoramente cruel: não há salvação quando esta se reside na impotência do ato de ser. Os sentidos não revelam a realidade, Horácio, negá-los tampouco. Acontece, Horácio, que Shakespeare foi o maior dos filósofos ao resumir a tragédia a um fim unânime; ainda assim é chocante sabê-la como próprio destino.

E tudo culmina num só encanto, numa só finalidade; a cátedra e o canto corroem-se pela própria enfermidade. É a praga que se alastra ou a maldição que termina? Eis a pergunta da humanidade, a causa das guerras, mãe do egoísmo, a vítima e o algoz personificados num só, diferenciados pelo ângulo somente (esquerdo e direito).

E o que resta, os restos de uma vida inteira de memórias, até parecem serem feitas para o esquecimento. Esquecidas, não, roubadas das próprias entranhas cujo único propósito é despejá-las no depósito da história da humanidade, que fica no centro da Terra, devidamente carbonizadas, desidratadas de todo soro fisiológico, sangue e pele. O último suspiro equivale a um último pensamento cacófato: o rato roeu a roupa do rei de Roma, mas era só um rato e uma roupa.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A sinfonia

Cofres com garras no lugar do coração, sangue feito de tinta cuja cor não é visível, cujo sangue não é palpável, mas é respirável, não pelos pulmões, mas pelo fígado, direto pros olhos. Estes sem lágrimas, seco, isento de sensibilidade à luz.

As mãos não lavam mais embaixo das unhas, não é importante, não é necessário, não é possível. Viraram engraxates de botas. Couro sintético que não eriça ao toque, anel magnético cujo pecado foi atrair o amor. Barganha de sentimentos, maldito comércio clandestino. Não há trocas, só ônus unilaterais de ambos lados.

Minha alma é morta, sou uma carcaça sem dentes, uma fera sem unhas, um sorriso sem face, sem classe, um impasse de ser o que não quero, e não poder escolher meus sapatos, minhas pegadas me foram impostas. Não são minhas digitais.

—Hoje eu não sou
—E ontem?
—Ontem eu era.

Tramitação involuntária da aorta na coluna vertebral. Paralisa as pernas quando apenas atacara o sistema nervoso. Sem pernas, sem pés. O tempo não passa mais, a vida não vive ais, é o calcanhar de Aquiles de Hades. No final das contas, eu perco de todo jeito.

sábado, 15 de agosto de 2009

Calígula parte I

Algumas vezes o sol não se dá conta que quando aquece demais, queima. Assim são as pessoas, como dizia Schopenhauer: somos todos porcos-espinho, se chegamos muito perco nos espetamos, se nos afastamos em demasia sentimos frio. Tem casos que o espinho entra tão fundo que dói mais tirá-lo de si que deixar o outro por perto.

Tem dias que a sensação é de que as feridas sangram mais do que se consegue repôr. O ar sai do pulmão para espremer o coração. Seja pela falta ou pelo excesso. Não há como esquecer o toque das mãos, ou os olhares penetrantes, como lança. Te espeta sem pedir, e fisga, e tira o chão dos pés. Ou então o vento frio, cortante, que quando passa leva um pouco da sua vida consigo. Enfraquecido, é assim que se fortelece. E a vida que nos leva não é recuperada. Por isso que morremos. Porque a vida para vivermos eternamente foi sendo-nos roubada aos poucos, tão aos poucos que nem notávamos.

Tenta-se não morrer, usamos roupas para nos esconder do vento. mas a lã é fina, e não protege ad eternum. O frio sempre consegue nos penetrar atpe os ossos para de lá assaltar a medula. Medimos a qualidade de vida, que nada mais é a quantificação bestial dos nossos valores dentro da realidade submetida aos valores sociais. Mas isso é só outra suposição. Talvez não valesse a pena pensar se não fôssemos uma sociedade, se não tranmitissimos valores e aprendizados, cultura. Aculturados. Apenas outro blá blá blá de quem não viveu experiências que defende.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Contastações

Da morte fica a dor de quem não foi, embora esta seja menor que a de quem ficou.

E ceifa a morte os diversos caminhos e faz-se sentir remoendo os trilhos; brilha a luz que guia os andarilhos. A sua foice não se faz juíza, o seu coice sente-se como brisa; e o laço se parecer roto - que engano! - é o limite do calabouço.

Até a neve fez-se negra de tanto chorar. Até as frestas no telhado estavam cansadas da solidão. Até o palhaço foi exausto de suas forças, despido de qualquer inibição, caiu de joelhos, só queria a última piada; calou seus olhos com uns óculos, apagou o sorriso dado pela maquiagem, o palhaço não passou pelo portal.

Uma gota pode ser mais densa que todo o oceano, dependendo por quem ela role, de quantas lembranças foram necessárias para ela ser produzida. Muitas vezes as lágrimas são feitas por remorso adoçado com saudade.

É um pedaço do coração que se vai, entretanto o coração é como uma estrela, quanto menor, mais denso e carregado. Até um dia implodir. Mesmo assim não há medo, há esperança, talvez. As memórias fluem na corrente sanguínea, infeccionam os sentimentos, se proliferam, contaminam tudo. É possível chegar num ponto em que qualquer coisa tem um sentido emocional; mesmo as palavras, elas são ocas sem sentimentos.

A morte é só o fim do início.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

As máquinas

A personalidade fez-se em átomo, sua radiação penetrou-lhe os instintos e os modificou. Fez abraçar todo estímulo exterior e fê-los sentimentos, para sentir todo um sabor inigualável de explosão e mesmo de tédio. Ainda era máquina? Perguntava-se, afinal, sentia dor, tédio, amor, compa~izão, passou até a crer que era vivo e que continuaria após ser desligado. Passou a acreditar que havia alguém onipotente, onipresente que era criador de tudo. Seus parafusos eram de átomos, carbonos que se renovavam continuamente. Era vivo! Amava viver, mas viver também é sofrer, ter perdas, pedras, pedradas...

Máquina sabe da sua prórpia existência? Era só uma máquina... máquina de trabalhar, fazer patrão ganhar dinheiro, máquina de ganhars dinheiro para quando chegar no fim da existência gastá-lo com recursos para prolongá-la mais um pouco, só mais um pouco, mas nunca o suficiente. Era máquina também de pensar; mas parou de pensar em si quando pensou em ser o melhor de todos, em vez de ser o melhor de si.

Máquina despida de humanidade, máquina cuja essência foi um dia a humanidade, assim como a cadeira tem cadeiridade para ser cadeira os seres humanos possuem individualidade, não são mais humanos, são máquinas, como o eram antes, no estado de natureza. Voltaram a ser indivíduos, voltaram a ter liberdade sem fronteiras. màquinas não tem sentimentos, máquinas não vivem, máquinas só querem ser infinitas ao invés de intensas. Máquinas´são úteis, e não amáveis. Máquinas são só máquinas.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Carta de despedida

Queridos amigos e amigas. Já não sou mais eu quando do relato desta carta. Sei que muitos de vocês estão cansados com seus próprios problemas. Eu também estou com os meus. Amigos, resolvi derrotá-los de uma vez, derrotar minha parca vida de uma vez por todas. Dizer adeus a esta personalidade é o menor dos males do meu jazigo, talvez nem male seja deixar de ser.

Renascer em outro ser, outro corpo e deixar meu passado no passado. Matar minha antiga existência e descobrir uma nova face do mundo, da essência. Olhei pela janela pela última vez, décimo andar desse edifício de 30 andares comerciais. Nunca mais terei essa vista, mas esse fato não dói. É um consolo saber que de hoje em diante o céu será minha morada, em vez de simplesmente um quadro na parede que na maioria do tempo deixei coberto para não atrapalhar o visor do meu computador. Subi no peitoral da janela e gritei: Eu venci!

Planei por alguns eternos segundos, finalmente me senti livre de toda a pressão, dor, mesmo do mundo. Planei mentalmente enquanto imaginava como seria a outra vida. Amanhã seria um novo dia; mas apenas para mim, os outros talvez nunca sentirão a liberade que agora vou experimentar, ah, os outros, estes nunca hão de sentir a liverdade enquanto petrificarem conceitos e definir o que é ser livre.

Eles dizem que são livres, será mesmo? Amigos, nem vocês são livres. Todos vocês, amigos e outros, acham que liberdade é ter poder dentro do sistema social, ou então acham que é se excluir do sistema social porque este encarcera. Há! Liberdade está no micro, não no macro... Enxerguem com seus olhos o que é sentir-se livres. Dou um fígado àqueles que me disserem que não se imaginam felizes sendo livres, para ser o que quiser, viver onde bem entender, plenamente. Essa palavra faz uma falta, não? Bem, descobri apenas agora, no último dia antes de eu completar 50 anos de vida que liberdade é sentir-se feliz com sua própria essência, e a prisão é estrangular a externações de sua essência para servir ao seu achismo superficial. Amigos, eu cansei disso, estou livre! Estou deixando essa carta para que não se preocupem, agora eu sou do mundo, o mundo do circo. Pois é, sou um palhaço profissionalmente agora, cansei de ser palhaço da vida.

Adeus, meus amigos, adeus. Amo cada um de vocês.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Parábola do Anjo

Certa vez um anjo subiu ao céu após ter ficado um dia na Terra. Voltou horrorizado, viu fome, dor, desespero, crueldade com seus irmãos. Antes achava o homem um forte, suportava o sofrimento sem preder a fé; agora achava que o homem era quem provocava seu sofrimento e que, portanto, suportar seu próprio sofrer era o mínimo que podia fazer e desgraçado fosse aquele que percorre a sua fé. Contou tudo isso a Miguel, este lhe respondeu "Volte lá e fique um mês".

O anjo voltou depois de um mês passado no Terra ao céu. A vida do homem era uma montanha-russa, ele provocavao seu sofrer apenas para sentir alegria com todo o seu sabor. O homem aprendeu a sofrer para saber como é ser feliz, e passa a vida inteira tendo grandes felicidades, achando que são pequenas, e esperando pela felicidade plena em que não há tédio. Miguel prestou atenção em todo raciocínio do anjo e disse: "você sempre esteve certo, anjo, o homem é tudo isso. Mas falta-lhe um terceiro foco, volta à Terra e fica mil anos".

No milênio seguinte voltou o Anjo e já foi logo ter com Miguel. "Não há verdadeiro sofrimento, há apenas o vazio, o tédio, a dor, mas eles não sofrem, é a realidade humana. O homem tem sua natureza para ser incompleto e passar toda a sua jornada tentando se preencher; alguns desenvolvem valores mais humanos, conhecem sua natureza e não a negam e reagem como podem. Estes são os mais interessantes, chegam ao mesmo resultado com raciocínios, valores, princípios e conclusões completamente diferentes. Eles creem que a dor ensina a superação; e a superação provoca sabedoria. Mal eles sabem que nada da jornada será retida ou aproveitada, eu pelo menos cria nisso, fiquei surpreso, Miguel, quando descobri que a sabedoria deles não era para ser retida e, sim, propagada, um último ato de generosidade que é aliviar a solidão e a dor de seus iguais".

No que Miguel respondeu: "Anjo, a alma humana é a vossa, e esses mil anos, um mês e um dia que passou entre eles na verdade era ao seu lado, vendo-se por um foco que não o subjetivo, calcado em valores e moralismo. Aprendeu mais sobre a alma que sobre o humano, mas não ache que aprendeu demais, cada indivíduo é único como o é acda face sua, e toda a sua verdade só serve para você".

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Discurso do Estilhaço

Um estilhaço que te fez ser assim, tão percorrido em poucas linhas, que também escreveu "Vai, Carlos, ser gauché na vida", agora escreve: "Vai, Lucas, ser vida no gauché". Ainda bem que esses estilhaços não caem duas vezes no mesmo lugar, para quem o relógio disparou há muito tempo, que cada segundo voa por cima da cabeça puxando as horas a tiracolo já basta a primeira maldição, enxergar o mundo pelo próprio foco.

Compartilhá-lo? Talvez sim, talvez não. Aumentar a desgraça para aqueles que veem mas não conseguem distinguir não é digno de qualquer louvor, mas, sim, fazer a compreensão daqueles que também enxergam com sua própria visão se sentirem compreendidos e amados, isso sim é mérito.

A vida às vezes parece uma persona non grata, que quando não consegue mais nos derrubar cava faz-nos cavar nossa própria cova. Mas há quem ensine a ver o lado bom de cavar túneis, acha-se muitos diamantes que trazem a luz da superfície de volta aos olhos e o calor da alegria de volta ao coração. Assim que alguns justificam a caminhada para baixo e seguem felizes para a morte em vez de continuar vagando pela superfície de si mesmo e de repente cair na fossa que outra pessoa cavou. Felizes são esses alguns que encontram razão em morrer apenas porque só se morre vivendo.

O buraco que cavava um dia deu de encontrar minha toca, em que guardava minhas ferramentas. Rústicas por assim dizer, mas o que te espantou é que elas foram feitas com partes de mim mesma e para serem usadas a dois e não sozinha. E não me importava quem quisesse compartilhar de minhas coisas, o que me bastava era fazer algum sentido para aquela pessoa, dar um dos meus diamantes para que ele brilhasse na vida dela também. Talvez seja a luz que te ofuscou, talvez fosse a parceria proposta, ou talvez fosse alguém de personalidade misantropa com características altruísticas. Fosse qual fosse, havia seres que quanto mais machucassem seus corações mais inchados e maiores eles ficavam.

Os últimos humanistas não conseguiam mais acreditar na humanidade do indivíduo, mas os maiores existencialistas perderam a noção de humanidade. O indivíduo cresceu tanto que a humanidade virou um conjunto de indivíduos, e perdeu a própria personalidade. Ahasverus, o último humanista. Viu no que a humanidade se transformou, viu que os ideais viraram apenas ideias e que viver se transformou possuir para si.

Que de tanto espelhar-se na humanidade ninguém enxerga a si? Besteira... é o velho conto dos sábios que acharam o elefante uma corda por só conhecerem o rabo.
Mas é verdade que de tanto espelhar-se em si descobre-se a humanidade. E que isso tem a ver com o estilhaço? É o foco da visão que te une ao mundo, não o mundo que te une a visão. Vai, Lucas, ser vida nos túneis tortuosos da humanidade.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

O menino-livro

Que de mero texto construído para saber da própria destruição.
Vagante do cemitério das línguas castigadas e esquecidas, sê tu o alazão da semântica.
Venhas a galope retrazendo o que nunca deveria ter sido levado.
A luz refrata no teu prisma, concentra-se num único ponto, o do teu coração.
E o teu coração bombeia fótons para aquecer todo o cosmo... univeros de si.
Letras que te fazem ser o que não tem, ter o que não é, mas o que deseja.
Teu mundo, teu mundo...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Nothing Else Matters

Que da lembrança só se tem o sentimento impregnado na retina. E ela às vezes nos trai dando-nos a impressão sem o fato. E que é a impressão sem o fato? Um reação do nosso interior interagindo com nossos sentimentos.
Das lembranças que já se teve e não mais poderão ser vividas... alívio? Sim, novas lembranças surgirão e aquelas serão ofuscadas até perderem por completo a sua sensibilidade e sua interferência.
E se só tiver a lembrança sema sensação? Não, isso não existe, não se guarda aquilo que não se sente, é como se não existisse mesmo. O que não está nas atas não está no mundo.

- Senhor, meu Deus, salvai-me do mundo.
- Salvar-te-ei, meu filho, e como salvo o mundo de você?
- Não salva.

O Mundo pode parecer cruel demais, mas é o jeito dele nos marcar, de não passarmos despercebidos or ele. O Mundo sente cada marca que nos penetra. O Universo é uno. Pensemos pelo lado positivo, estamos vivos e o Mundo sabe; e por saber ele nos persegue até que nossas forças desabem. Para o Mundo a humanidade se tornou repetitiva demais... até que ele nos marcou com valores, para cada povo um valor e uma dor. Para cada indivíduo um amor e uma meta.
Nasceu o conflito.

- Amo-te tanto que não posso perder-te para a morte.
- Tu nem te importas, tratar-me como propriedade é te importares menos comigo do que com o resto, isso não é amor.
- Se não posso te teres, ninguém mais poderá.
- Tu podes arrancar-me a vida, mas jamais conseguirás matar-me.

A morte se tornou apenas um passatempo. A vida no Mundo ficou muito mais divertida com a consciência da morte e seu respectivo medo. Surge o epicurismo. E o que restava dos valores morais? Só a ética do ser pelo ser. A vida pela vida, sem vida não há Mundo... E o Mundo sabe disso, e por isso nos mata sempre com a certeza que deixamos outros produtos para servi-lo em nosso lugar.
And nothing else matters...

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

I fix you

Às vezes sinto falta daquilo que sempre me faz bem, daqueles momentos felizes que costumava ter com você antes da sua ausência. Pergunto então por que o céu é azul para mim e rosa para você? A chama não bate duas vezes na mesma porta, mas para nós ela nos tocou pela chaminé. E te levou de mim no momento que eu menos queria e mais precisava. A dor é só um dos caminhos, mas é o que nos leva mais distante e mais próximo. A morte é só uma passagem, mas é o que torna tudo mais belo, o mistério!

sábado, 31 de janeiro de 2009

Os amantes

A luz do dia dissipa os dissabores em forma de canto em que ouço sem atenção. As janelas murmuram sua presença no meu jardim, rosa das brancas, vermelha de sangue e de vergonha.

— Vergonha de mim?

Talvez não, talvez não seja isso, ou seja. A noite se expande pelo céu enraizando sua escuridão nas nuvens. O véu da noite separa os amantes do tempo e a escuridão os acoberta do espaço.

— Mas, e quem disse que somos amantes?
— E quem disse que não somos?
— Os amantes se olham com os ouvidos, se vêem com a boca e se falam com o olhar.

O beijo dos amantes nada mais é que um selo de uma carta, palavras que não precisam ser ditas, escritas com sorrisos de sentimentos, pensadas com a alma. Palavras de amantes não tem morfologia ou sintaxe, só a semântica dentro da mente deles.

Amantes são o desejo da felicidade consolidado na Terra.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A boneca - Parte 1

Talvez eu soubesse que eu sempre fui de mentira, uma imagem inventada a força por uma doente que nem sabe soletrar o nome. Saberia, se ela tivesse um nome, mas ela era coisa, e coisas não merecem nomes. Descobri que era de mentira quando meu pai voltou, depois de 15 anos, da mercearia onde disse que foi comprar cigarros. O mesmo homem que eu vi tantas vezes num retrato na casa de vovó, porque os retratos dele em casa haviam sido queimados num ritual Bantô sete dias depois que ele se foi.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Manifesto dos textos de álcool construídos

Para a alma destilada ao vinho, termos da fuga do passado se revelam mau caminho. E do presságio se fazem destinos mal traçados de tinta escorrida. Vermelha tinta, pingada e maltratada. Riscados os papéis que se acumulam, numa trilha de sons assonoros, folhas de areia pétrea que se esvaem na mais fina brisa, e espalham suas palavras que se infiltram no céus e nos mares, viajando nas veredas aos pares.

Tecelagens de frases imperfeitas, que de serem partidas de sentido falta de ser sabido o paradoxo que é o fascínio. Encanto, vislumbre e sabor, mágicas palavras de alto de álcool teor. Física mal-calculada e regrada, de normas e regras quebradas. De rachado servem-se o legado das Memórias e do Rancor.

Partes de um mesmo todo, acasos e imoralidades. Peças de um quebra-cabeças que do encaixe se fazem atrasadas. Anacrônicos pedaços de um cérebro sem coração, fios que se ligam sem qualquer emoção ou sensação, culpados pelo seu próprio homicídio sem causa, sem dolo, sem culpa, sem nada. E das suas cinzas só resta a efêmera lembrança da palavra que um dia foi, e que numa próxima corda vocal pode vir a ser.
De tanto augúrio que me tem propício
da vetusta arte que me faz arte morta
Um aulete de flauta desencantada
Uma bolha que se estouro numa picada

De tanto que já corri de medo
do nunca que permaneci parado
das pregas da minha venda até
me lembro como se fosse hoje
Talvez porque hoje é ontem
Um dia foi todo o meu passado
E do grito se escolhe o meu presente
Sonhos fazem parte do seu estado

Perniciosos olhos que lanças lançam
De fortuitos auriluzentes cravos de ferro
Seu valor não está em si, está no topo
Topo dos ares sem mel

Ahasverus

De Ícaro me fiz para poder voar, pena que eu esqueci que minhas asas eram de cera... Importa mesmo é que eu voei, mesmo que o tombo tenha sido maior que a queda. Louco que fui de ter me tacado do penhasco, sem ter pensado primeiro nem pensado depois.

Estão achando que eu morri, não? Se assim fosse quem estaria contando essa história? Só se mata quem tem medo de morrer. Eu tenho medo é de viver.

E tendo medo de viver o que eu não queria eu vivia o que eu queria. Eu acho. Quando não se tem certeza de nada a gente acha até que não é mais gente. E então? Sobrou algo afinal?

Sobrei, na verdade nem isso. O que sobrou foi meu corpo atado ao chão com cordas invisíveis aos olhos, as mesmas cordas que apertavam e sufocavam meu coração. Eu não queria morrer ao final, eu só queria deixar de viver aquilo que eu queria, para viver algo real, e a única coisa real que me sobrou foi a tristeza do meu enterro.

Tristeza? Há-há... meu enterro teria sido triste se alguém tivesse ido para sentir a tristeza, mas nem os corvos apareceram. Nem os corvos. Só vermes, mas isso foi depois do enterro, bem depois.

Nasci no meu salto para o fim. Não tem sentido? Como não? Eu não tinha vida antes disso. Eu era só no mundo. O último homem a deixar sua pegada no mundo. O último a sentir o gosto da terra na boca. Não tenho mãe, nem nunca tive. Fez falta?

Como posso saber se uma mãe faz falta? Só sabendo como é uma mãe e o que ela faz. Eu nem sei... Não sei nem quem eu sou, o meu nome, quanto mais o que é uma mãe. Queria mesmo ter asas de mel para grudar-me nas nuvens e ficar voando o resto da vida, morrer devagar e aproveitar mais. Mas não foi assim, minhas asas eram de cera.

Agora é tarde para arrependimentos.