Talho meus dedos numa peça de madeira comum. Meus dedos
nascidos da normalidade esculpidos dolorosamente por histórias, minhas
estórias. Meus dedos, com unhas de grafite, escritos por experiências, cujas
ranhuras denunciam a idade das amarguras que vivi.
Minha mão pega o cinzel e delicadamente desenha minhas
digitais, prevendo as frutas que tocarei, os vidros que me cortarão, as
lágrimas que enxugarei. Então minha mão usa o cinzel e descreve minhas
cicatrizes, contorna os amores e as conquistas, arranca lascas de pele
encorpadas de decepções.
Meus dedos quase prontos são observados pela criadora, e são
finalmente aprovados. Chega de decidir sobre o destino, chega de criar
escolhas, chega de desenhar dedos.