A mexerica é uma fruta democrática, divide-se entre tantos
palatos e oferece seu suco a várias sedes. Gomos de mexericos democráticos
espalhando-se nas bocas de todos, espalhando acidez e cítricos dentre os democráticos
mexeriqueiros. Democratas mexem suas línguas em busca de vitaminas para seus discursos,
enchem sua bocas de insumos adocicados e preenchem as cabeças dos feirantes.
A expectativa assassina da esperança se instala nas
gargantas dos consumidores. E aos poucos a espera se torna costume, e o costume
se torna comum. E assim, todos esperançamos sem espera, e sem alcance. E todos
oramos e rezamos. E todos regurgitamos pelos canudos o que bebemos do copo para
a mente. E todos sentamos enquanto descascamos mexericas. E todos cuspimos fora
as sementes, para que não brotem.
A sede não é de coca-cola, mas de vitaminas C, de sabor
ácido, de angústias novas, de frutose e lágrimas. A sede não é saciada, nem
aliviada pelo suco de mexerica, a sede será eterna, assim como a espera de
todos pela democracia.
A mexerica é uma fruta democrática, barata, vendida em bacias
nas feiras. Chega em todas as casas, por meio da televisão e das revistas. A
mexerica é fruta pop, fruta top, satisfaz a realidade brasileira.