Sai-se da fábrica aos prantos, construindo todos os dias as mesmas desilusões que serão distribuídas visando a completa nutrição de vaidades, egos e orgulhos. Cimentam-se as emoções e se impermeabilizam as dores, as chagas, os traumas. Não se fica mais triste ou abalado, há drogas para qualquer desconforto e solidão.
Sai-se da fábrica aos prantos, obreiros pranteadores e desolados, desnutridos e mal amados, confiantes em seu ingênuo trabalho de produção medicinal da anestesia, e da felicidade. Medica-se para esquecer como superar, como se frustrar, como se decepcionar, como fracassar, como vencer, como se lembrar, como sair da rotina. Medica-se para rir, festejar, dormir, não dormir, ler mais, render mais, ouvir menos, falar mais, pensar menos, ser menos, individuar menos.
Sai-se da fábrica aos prantos, produzindo-se remédios para serem distribuídos, vendidos e fornecidos em amostras grátis, viciando toda a população em felicidade.