O sangue congelou nas veias, iniciando a paralisar o ritmo cardíaco daquela alma. Braços estatelados, como rendidos numa cruz, mas sem pecados de outrora. Apenas o frio invadindo a pele, o corpo, o sangue.
Pernas cruzadas em Lótus, qual flor cristalizada aguardando a eternidade. Rosto sereno em contraste com as emoções.
Faltava-lhe a alavanca para sair da neve e escapar com vida daquele estado de paz. Os dedos arroxeados já indicavam a falta de tempo para reflexões de cunho decisório.
A armadura que vestia em vida estava apertada, e a ferrugem já lhe contaminava os pulmões diariamente. Tantas pequenas amarguras, que somadas faziam-se monstruosas. Ou seria monstruoso ele, de tanto desejar sentir-se em paz e completude? Ou seria monstruoso aquele que o ensinou que é correto desejar tudo isso é sentir-se miserável se não alcançar? Quem é o monstro?
Não há mais tempo para reflexões inúteis, o sangue termina seu congelamento, o coração encerra o sofrimento, todo o corpo se paralisa e liberta a alma para penar em paz na neve.