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quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Dos aniversários

As pessoas são engraçadas, adoram comemorar seu aniversário, mas nunca querem contar a idade, as velinhas do bolo sempre somam menos do que deveriam. Mas também por que contar a própria idade quando a que importa é a mental? Certo? Mas decerto que as crianças gostam de comemorar aniversário, mais um ano que se passa, mais velhas, esquecem que a idade acompanha responsabilidades. Depois viram adolescentes rebeldes que não entendem que a liberdade adulta é mais presa que a dependência infantil.

Mais que isso, uma garotinha estava a comemorar seu aniversário quando viu que sua mãe havia feito bolo de morango, aquele bolo de morango típico de festas, com muito recheio cremoso, massa “molhadinha”, sabor que explode na boca. A garotinha é claro que ficou feliz, mas teria ela ficado feliz se todo dia comesse aquele mesmo bolo de sobremesa? Por um lado esse bolo é bom demais para qualquer criança comum não gostar, mas toda a simbologia de que o aniversário, que por ser tão raro é especial, seria quebrada. Seria crueldade? Talvez, mas seria real. Esse problema do bolo de aniversário é só mais um problema aberto para profundas discussões filosóficas à respeito do que realmente é especial e vale a pena.

Outro sério problema de aniversário são as bexigas. Para que servem as bexigas? Você gasta todo o seu péssimo fôlego de típico urbano que aspira oxigênio tanto quanto fumaça de ônibus e ainda por cima ele todo é desperdiçado porque o único fim das bexigas é serem estouradas ao final da festa, além de aumentarem a sujeira que deverá ser limpa sempre no dia seguinte ainda por cima todo o seu sacrifício foi desperdiçado.

Voltando ao assunto do aniversário dos quase quarentões, é sempre um martírio ver que sua idade vai se aproximando dos quarenta e você ainda está solteiro(a), pior ainda, você já é casado(a)!! O pior dos aniversários de 36 anos é estar comprometido conjugalmente. Vive simplesmente no limbo intermediário da vida social, afinal, é velho demais parar ir a festas, e é jovem demais para não ir. Ir ou não ir, eis a questão. No final das contas acaba tudo em divórcio e em outro casamento, um mais maduro e mais consciente. Envelhecer juntos, comemorar juntos, chorar juntos, típicas coisas bregas que jamais saem de moda. Ou não, acaba em outro divórcio e uma velhice confortável apostando tostines enquanto jogam pôquer.

Melhor que isso só os aniversários da turma da terceira idade. Comemoram cada um que se passa como se fosse o último, mesmo porque há uma grande probabilidade que realmente seja, afinal a artrite piora a cada mês, e a cada check-up é uma nova doença. Houve um caso do velhinho que pegou caxumba, o pobre coitado já jazia em seus 84 anos e ainda assim pegou a caxumba de seu bisneto de sete anos. Ele achou que era uma nova papada que havia ali, e nem sequer resolveu procurar os médicos, afinal, por que procuraria um médico só porque sua papada inchou? No entanto, a papada diminuiu. Normal! Devia ser apenas líquido retido, ou o barbeiro deixara inflamar sua garganta por um serviço mal feito. A velha que ficou contente quando, sem querer, foi ao banheiro pegar papel para assoar o nariz e viu o marido tomar banho, com aquelas bolas enormes. No mesmo dia foi à Sexy Girls, uma loja de lingeries, comprei um corpete vermelho tamanho EXTRAGG, e foi para casa fazer a surpresa para o velho, na mesma hora o homem percebeu que devia estar doente. Eles se divorciaram três meses depois, e ela casou de novo com um senhor de 77 anos.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Solitário

Como um coração solitário pode, sem mais angústias, sentir-se aquecido por um outro qualquer, ainda sente-se que, por mais juntos que estejamos, ainda somos nós mesmos, e não passamos de uma metade incompleta que espera encontrar-se consigo mesma. Ainda que na verdade saibamos que nada somos de real, temos a esperança de crer numa espécie de metafísica inverdadeira que nos transpassa como a uma coração laminado pela dor. Sempre e sempre sentimos-nos guiar pelas ruas das incertezas duradouras que mesclam os tijolos do caminho com pó de ouro e confete, espalhando as raivas e transbordando as tristezas para caber dentro de si todas as alegrias que a vida há de nos proporcionar.

O dedilhado de um coração solitário é uma sonata em dó maior, conta a história de um átrio e um ventrículo que se conheceram e se amaram; desaguando pingos de luzes para todas as partes, fundindo-se num só órgão e canção, cuja voz doce e delicada desafina a cada sístole mais forte e vibrante que percorre todo o peito. Entretanto a solidão não faz apenas sentir a companhia de si mesma, faz sentir a companhia do outro também, tal como a abstinência de todos os sentimentos possíveis e plausíveis de se ter um relacionamento que não seja monopessoal. Não seja a solidão solitária em si mesma, solidão é a companhia do surreal monofisista para alguém que a realidade é dura demais para suportá-la.

Solidão não é pura e simplesmente estar sozinho, é muito mais profundo que isso, porque às vezes não basta a companhia de cem amigos para tirar-lhe a solidão de si; às vezes, e só às vezes, apenas um coração mais solitário que si mesmo pode se tirar da solidão. Pobre do coração solitário, só ele sabe das dores de se ter uma companhia, um amor; só ele sabe dos medos de magoar e ser magoado, mal sabe o coração solitário que a dor de se ter uma mão para pegar é a dor mais feliz do mundo

sábado, 9 de agosto de 2008

Lágrimas são inflamáveis

Às vezes a lembrança não passa de uma chaga que arde queimando tudo que há por dentro. Lembranças são inflamáveis e sempre queimam começando pelo oposto. Iniciam pelo teu cérebro, devoram tudo que sobrou de sua sanidade racional deixando-lhe à mercê de seu emocional. E você chora, ri, volta a chorar; mas sempre lembra. Lembrar é viver, não! Lembrar é reviver, é renascer, é querer morrer, é comemorar por estar vivo, é chorar de saudades, é querer voltar no tempo e fazer tudo diferentemente igual.

Lembranças são um fardo que todo ser vivo carrega consigo. São fatos unilaterais marcados a ferro em no peito milimetricamente esquartejados por uma sádica divindade que tudo diz prever e acontecer.

Muitos dizem que a saída é esquecer, esquecer de sentir a dor, esconder a dor da vista, sim. Mas a dor se cala por pífios instantes antes de gritar desesperadamente por atenção, nisso é espancada até aprender que não deve se manifestar. Mas a dor é vingativa, espera um momento de fragilidade do ser para se libertar e pedir socorro. Melhor é deixar a dor livre, senti-la, compartilhá-la, movê-la e entendê-la. Sabe-se lá que coisas ela é capaz para libertar-se, melhor é ser amigo dela, enamorado dela.

Dor é a lembrança mais sublime que se pode ter. É quando se alcança a paz interna e a dor não mais traz consigo qualquer sofrimento. Lembranças dolorosas são as mais gostosas de ter, são elas que mexem com o coração, aquecem o sangue e deixam os olhos felizes. Lembrar da dor é lembrar de si próprio, lembrar do próximo.