E os meus pensamentos voam longe, feito andorinhas, tentando
adivinhar os meus futuros conforme esbarro nas encruzilhadas da vida. Mas assim
como uma andorinha não faz verão, cada um que se passa na minha cabeça não me
toma. E a minha mente continua seu passeio pelas possibilidades, pelas
catástrofes e pelos jardins. E a minha mente continua seu passeio, sem a
paciência de outrora, com medo da pressa imperfeita, com medo dos monstros que
me espreitam, com medo dos cacos da flor de vidro que derrubei no chão. E a
minha mente continua seu passeio, entre os arranha-céus que construí com
orgulho na minha cidade imaginária, entre as casas modestas no campo em que eu
reservava para meu refúgio, entre o lago de carpas brancas e laranjas que
retinham minhas lágrimas.
E os meus pensamentos cavam a terra, a fim de me enterrar
consigo. Mas por outro lado, constroem
um morro com a terra cavada, no qual me habilito a subir e a enxergar o mundo
com um otimismo nunca antes permitido. O céu está lindo hoje, cheio de nuvens
para lembrar como é boa a incerteza.
E os meus pensamentos se cansaram de tanto andar, de tanto
rodar em círculos sem chegar a lugar nenhum, como se fossem ponteiros de
relógios que repetem a vida toda os mesmos números, e o mesmo compasso. E neste
compasso continuo tentando achar
lugar nenhum, ou algum, seja para me esconder das conclusões que me passam pela
cabeça, seja para me afugentar nas conclusões que chegam à tua cabeça.
E os meus pensamentos são como porcos-espinho, desses que
com cuidado e paciência se consegue tocar o coração, mas que com brutalidade
apenas te ferirão. É o caso famoso da flor que se transformou em porco-espinho,
quando Dr. Jekyll deixou sua poção cair na jardineira. Esse porco-espinho que
se tornou minha mente é uma verdadeira esfinge: decifra-me ou devoro-te.