E as batidas do meu coração ressoam como sinos na
madrugada gelada, causando calafrios nos ouvintes solitários, causando
balbúrdia nas ondas sonoras com as quais cruza. Ouvem-se com perfeição cada
toque de hora, mas não é uma hora comum. A minha hora não se reúne em minutos,
nem em segundos, mas em risos. E cada hora passa mais rápida ou mais
lentamente, a depender da distância entre a tua presença e os meus sentidos.
E como um trem a vapor, segue quase descarrilando, deixando-se
torrar pela caldeira quente em que minha linfa se transformou. Apitando próximo
às aldeias, chamando teu nome com um assobio forte, quem sabe em qual delas
estará?
Segue,
Maquinista, segue avante, diz-lhe meu som. Ponha lenha na minha caldeira,
deixe-me queimar, deixe o fogo consumir o que restou de mim.
Mera ferrovia,
esta é a definição da minha esperança,
e as batidas do meu coração seguem soando, trilhos afora, o que espero do futuro. Expectativas
devidamente demarcadas entre duas paralelas de ferro, e estas dão a volta ao
mundo.
E meus trilhos
dourados, assim como os tijolos de Dorothy, levam-me ao destino, levam-se ao
acaso, levam-te junto. Seguindo pelos belos campos, subindo montanhas, descendo
penhascos, em alta velocidade, e apreciando a paisagem que construímos pingo a
pingo, numa linda pintura pontilhista.
E meu coração
direciona o som de seu tamborilar, per-seguindo outro trem, que emite outro
som, outras batidas de outro coração.