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quarta-feira, 27 de abril de 2016

Hoje é dia de Maria

Hoje meu dia é feito de poesia, quase um drama shakesperiano, com direitos a grandes tragédias e desilusões, mas sem o costumeiro veneno que impregnou a pena do mestre. Minha vida ganhou balanço de conquistas e frustrações, e por hora atravessarei nova fase, cansei dos antigos obstáculos e dos mesmos monstros.

E minha poesia lírica ganhou trilha sonora, um violino belíssimo que me acompanha desde o berço cria maravilhosas composições conforme inauguro os dias de cada dia. E respiro de hora em hora acompanhando todas as mudanças de estações.

Hoje meu dia foi regado a café, com pouco açúcar. Meu café arábico e nacional, que desperta a insônia em meus olhos, e permite a minha mente desfocar. Meus cílios não se cruzam a semanas, e meus sonhos se perderam no vão do travesseiro e não me permito a mais esperanças que as que já acumulei. Meus planos traçados são a causa de minha impaciência e meu conforto.

Agora meu dia está ensolarado, e chega a ser causticamente. Resseco aos poucos expelindo a água na minha respiração enquanto o calor me consome as narinas secas. Agora minhas mãos estão secas, descascando a pele ofendida e rachando a cutícula, deixo meus dedos abrirem e sangrarem, choram meu sangue pelos pecados em que toquei.

E minha poesia lírica ganhou pintura em óleo, pinto a dedo a tela mental em que imagino meu futuro, pinto a dedo a tela de tecido frágil em que me imagino tomando chá de hortelã, admirando a lua pela janela.

Assim meu dia vai passando, vai andando com as próprias pernas até me deixar para trás, atrás do meu tempo. Estou atrasada, extravasada nas minhas emoções e caretas. Estou cansada de descorrer e discorrer mentalmente os lances do cotidiano.


Confesso minhas lamúrias, e aguardo pacientemente o amanhã. 

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