Hoje meu dia é feito de poesia, quase um drama shakesperiano,
com direitos a grandes tragédias e desilusões, mas sem o costumeiro veneno que
impregnou a pena do mestre. Minha vida ganhou balanço de conquistas e
frustrações, e por hora atravessarei nova fase, cansei dos antigos obstáculos e
dos mesmos monstros.
E minha poesia lírica ganhou trilha sonora, um violino
belíssimo que me acompanha desde o berço cria maravilhosas composições conforme
inauguro os dias de cada dia. E respiro de hora em hora acompanhando todas as
mudanças de estações.
Hoje meu dia foi regado a café, com pouco açúcar. Meu café
arábico e nacional, que desperta a insônia em meus olhos, e permite a minha
mente desfocar. Meus cílios não se cruzam a semanas, e meus sonhos se perderam
no vão do travesseiro e não me permito a mais esperanças que as que já
acumulei. Meus planos traçados são a causa de minha impaciência e meu conforto.
Agora meu dia está ensolarado, e chega a ser causticamente.
Resseco aos poucos expelindo a água na minha respiração enquanto o calor me
consome as narinas secas. Agora minhas mãos estão secas, descascando a pele
ofendida e rachando a cutícula, deixo meus dedos abrirem e sangrarem, choram
meu sangue pelos pecados em que toquei.
E minha poesia lírica ganhou pintura em óleo, pinto a dedo a
tela mental em que imagino meu futuro, pinto a dedo a tela de tecido frágil em
que me imagino tomando chá de hortelã, admirando a lua pela janela.
Assim meu dia vai passando, vai andando com as próprias
pernas até me deixar para trás, atrás do meu tempo. Estou atrasada, extravasada
nas minhas emoções e caretas. Estou cansada de descorrer e discorrer mentalmente os lances do cotidiano.
Confesso minhas lamúrias, e aguardo pacientemente o amanhã.
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