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domingo, 29 de junho de 2008

A dor

Prostrada num cantinho da sala, as lágrimas escorriam grossas e volumosas de meus olhos. Sabia que ele nunca mais voltaria, não do lugar para onde ele foi. O corpinho inerte ainda quente em meus braços perdera qualquer movimento que faria qualquer mãe ainda ter um suspiro de ansiedade e esperança. Mas ele já não mais estava ali, sua presença não passava de mera imaginação ou talvez realmente existisse. O caso é que ele se foi. E eu, bem, eu continuaria aqui por mais algum tempo.

Os meses que antecederam foram os piores da minha vida, noites e noites soluçando por ouvir aquela tosse seca e baixinha que vinha de perto, que vinha dele. Uma dessas, ele veio na minha cama, pedindo socorro, e eu nada podia fazer. Essa sensação de impotência que era a pior de todas. Noites e noites pedi que os anjos o levassem de mim, sem dor. E sonhava, sonhava em poder trocar de lugar com ele, sacrificar-me em seu lugar. Quisera eu que um demônio ofertasse a vida dele em troca da minha alma, a venderia no primeiro instante para não ter perigo de pensar.

O dia que ele morreu foi o pior, por um lado eu não queria me separar do meu amor, mas por outro, vê-lo sofrer me angustiava e me fazia sofrer também. O corpinho inerte dele em meus braços não me saía das lembranças, como também me impregnou todos os momentos bons de nós dois juntos. Por um instante achei que ficaria à mercê, abandonada e sozinha, mas seu espírito sempre esteve comigo. E por mais breve que tenha sido sua presença, as lágrimas grossas e salgadas ganharam um outro sabor, de saudades e foi assim que um sorriso brotou no meu rosto. Quando a angústia se tornou alívio e a ausência se tornou presença, eu vivi, renasci.

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