Saber amar não é como andar de bicicleta, que se sabe mesmo sem aprender, que se sabe tanto quanto pensar ou responder a uma questão fácil. Saber amar é aprender a fazer rascunho, desenhar cada sentimento em forma de letra escassa, pintar palavras vãs que descrevem sonhos de pesadelos, derramar fonemas sobre os ouvidos de que é amado, gritar versos que nunca foram pensados. Saber amar é sentir o sangue gelar na artéria e congelar o coração enquanto as células ardem em fogo brando, viciante, hipnotizante e declaratório.
Que o amado sinta o mesmo pulso de quem ama, que entre no mesmo compasso que faz os ponteiros do tempo girarem mais rápido que os sentidos. Que o amado trema perante a morte e tenha medo por quem ama, pois o amante supera esse pavor e sorri para confortá-lo de todos os pecados. A morte é boa para quem ama. eterniza o sentimento num quadro cinza de sangue vermelho em que amado e amante são um só, o beijo.
sábado, 22 de novembro de 2008
Morrendo
O negro manchava a parede amarela de baixo para cima, se infiltrava nos tijolos e maculava os fios de energia que estavam presentes em alumas partes. A luz ficou negra, o sofá ficou negro, o ar ficou negro.
O menino perdeu as cores, sentou no sofá negro, respirava o ar negro. Pela pele via-se os pulmões encherem-se e esvaziarem-se do ar envenenado pela fumaça que corroía tudo a seu redor e coloria tudo que tocava. Aos poucos o menino absorvia a cor que denotava a morte, e assimilava seu destino junto.
Os olhos do garoto aos poucos ganhavam a cor das paredes e do sofá. Era a mesma cor, a mesma sensação, o mesmo fim. O menino nunca mais iria morrer, estava eternizado. A morte perdeu a batalha.
Amém
O menino perdeu as cores, sentou no sofá negro, respirava o ar negro. Pela pele via-se os pulmões encherem-se e esvaziarem-se do ar envenenado pela fumaça que corroía tudo a seu redor e coloria tudo que tocava. Aos poucos o menino absorvia a cor que denotava a morte, e assimilava seu destino junto.
Os olhos do garoto aos poucos ganhavam a cor das paredes e do sofá. Era a mesma cor, a mesma sensação, o mesmo fim. O menino nunca mais iria morrer, estava eternizado. A morte perdeu a batalha.
Amém
Sonhos
Estava presa num lugar que parecia um quarto. Era todo branco e claro. Havia uma cama, um grande espelho que eu desconfio ser uma janela de observação, um relógio de parede antigo e uma saída para ar. O banheiro, fechado durante a madrugada e obsessivamente limpo, tinha duas portas, uma dava para o meu quarto, a outra, para o mundo. Era minha única comunicação e, para meu azar, era também surda e muda.
Não sei quanto tempo fiquei desacordada. Minha última lembrança foi de bater o carro na madrugada de uma sexta-feira contra um poste. Eu havia bebido com amigos e perdido o controle numa curva. Meus ferimentos estavam bem limpos e toda manhã ao meu lado estava dois comprimidos com a indicação "TOME-ME".
A princípio achei que eu estivesse numa ala nova de um hospital, No entanto, as portas trancadas e um gás sonífero exalado toda meia noite não deixavam qualquer dúvida de que eu me tornei uma cobaia de experimentação. O que me exaure dia após dia são minhas lembranças: o que será que aconteceu com meu noivo? Como será que vai meu chefe? O que aconteceu? Essa última dúvida faz meu cérebro se contorcer filosoficamente afim de responder coerentemente essa questão. Já cheguei a beira da loucura achando que eu teria sido abduzida por óvnis, até mesmo cheguei a pensar que fui sequestrada, mas essas são possibilidades não eram passíveis de veracidade.
O que me chamava a atenção era como eu não tinha nenhum contato com outros seres vivos. Notei nesse tempo em que já estou que há um trabalho enorme para que eu não tenha nenhum tipo de comunicação com nada que se mova e seja vivo. Pelo jeito a sala que estou é vedada para áudio, mesmo com a saída na parede, por onde vêm minhas refeições, não consigo escutar nada. Não tenho nenhum contato visual, e acho que sou monitorada 24 horas por dia, porque, certa madrugada que acordei, o banheiro estava trancado e ouvi barulho de esfregões e água corrente. Gritei por socorro, mas de nada adiantou, ou melhor, só percebi outra dose de gás sonífero sair pela saída de ar.
Só o que me consolava eram meus sonhos. Certa noite, sonhei que estava num jardim colhendo flores, de repente eu era criança de novo e havia um parque de diversões enorme na minha frente.. Fui correndo brincar no gira-gira, mas ele começou a se tornar um furacão e, num instante, eu estava no centro dele. Então uma face apareceu sob o furacão e me disse: CORRA. Eu corri, mas passei a andar em círculos e percebi que um exército de coelhos assassinos me perseguiam com adagas e espadas. Consegui chegar ao meu quarto e lá me tranquei. Corri deitar debaixo do meu cobertor e quando dei por mim estava coberta de aranhas, meu cobertor não passava de uma grande teia. Acordei aterrorizada.
Eu perdi a conta dos dias que eu passava lá. Eles eram tão iguais que não fazia diferença se eram um ou dois, mas pareciam semanas e meses. Simplesmente o tempo parou para mim, não havia mais calor ou frio, não havia mais chuva ou sol. Eu me tornei pálida e meus olhos escuros ficaram ainda mais destacados no meu rosto. Usava sempre uma camisola branca. Mas eu não perdi a vaidade. Um dos meus passatempos é de refazer a camisola até ela parecer uma outra roupa. E meu “guarda-roupa” ia ficando a cada dia mais diversificado.
Reparei que estava ficando gorda, reclamei que queria fazer exercícios. No dia seguinte apareceu uma bicicleta ergonométrica. Estranhei o fato. Queria testar melhor. Então passei a reclamar e pedir de tudo. No dia seguinte lá estava a coisa reclamada anteriormente. Era inacreditável. Certa vez resolvi pedir amigos, então uma pessoa, quando eu acordei, dormia numa cama ao lado. Comecei a chorar. Era inacreditável.
Comecei a perguntar a essa pessoa. Quem era, o que havia acontecido, desde quando estava ali. Andréa era como ela se chamava. Tinha dois filhos, estava lá fazia algum tempo e coincidentemente desejou a mesma coisa que eu no dia anterior. Coincidência? Ela tinha por última memória estar no hospital, num quarto e estar sendo anestesiada para fazer uma cirurgia. Quando ela estava só também apareciam dois comprimidos com a mesma indicação. Depois que nos encontramos passou-se a não aparecer mais qualquer comprimido.
Andréa e eu tivemos a mesma idéia. Queríamos conhecer mais gente. Pedimos. Quando o relógio bateu a meia noite ainda estávamos jogando truco, em vez do gás sonífero, a porta do banheiro deu um estalo. Foi então que eu e Andréa não sabíamos o que fazer. Comecei a sentir desespero, uma espécie de agonia. Alguém iria entrar por aquela porta. Não aguentei. Andréa disse que não, que eu devia ficar longe da porta, mas não consegui. Dentro do banheiro havia dois vestidos de festa, um com meu nome e o outro com o de Andréa. Vestimos e eu fui adiante. A outra porta também estava destrancada e eu a abri.
Havia um salão enorme com um bifê. E muitas portas, incontáveis. Imaginei que todas davam para um banheiro que daria para outros quartos em que estariam outras pessoas jogando truco ou vendo TV a cabo. Comecei a gritar. Pouco a pouco as outras portas foram se abrindo desconfiadas, o salão foi enchendo de pessoas como nós. Algumas choravam, outras gritavam.
Eu comecei a entender o que acontecia. Era um mecanismo de reintegração social, mas todas as pessoas tinham que passar por um ritual antes. Mas porquê? E será que eu estava certa? Já havia me enganado antes, mas algo me dizia que desta vez eu estava certa. Talvez fosse o desespero por uma resposta a tudo aquilo, talvez fosse apenas um sonho, talvez eu ainda estivesse na batida, estava sendo socorrida e minha mente divagada pelo que estaria para acontecer e não pelas minhas lembranças. Essa última hipótese me incomodou, e se eu estivesse morrendo enquanto tudo isso acontecia?
Tudo fazia sentido! Não havia frio ou calor, tudo que eu desejava aparecia. A planta do lugar teria que ser redesenhada milhares de vezes para que toda aquela construção fosse verdadeira. De onde teriam surgidas aquelas pessoas? Era tudo fruto de uma mente cansada e debilitada. Eu mesma era fruto. Será que minhas memórias eram minhas? Quando cheguei nesse ponto parei de questionar. Eu tinha que manter uma certeza, eu sou eu e minhas memórias são minhas.
Lembrei da festa. Eu estava agora no centro sendo olhada por todos. Estava nua... meu vestido havia se dissolvido. As pessoas pareciam não me enxergar nem me escutar. Eu tentava contar a elas o que estava acontecendo mas não conseguia. Comecei a chorar, me dava por vencida. Eu não queria continuar ali. Queria voltar ao meu quarto. Quando cheguei lá outra surpresa.
Meu quarto só tinha novamente a cama, o relógio, a saída de ar e o espelho. Tentei voltar para a festa, talvez eu tivesse errado de quarto, mas todos os quartos eram iguais, todos eram o meu, não importa que porta eu tentasse. Me joguei exaurida na cama, não havia nada que eu pudesse fazer, então, lembrei de Andréa, ela talvez poderia me ouvir. Corri de volta para a festa, mas quando saí já não era mais o salão.
Era um local diferente. Tive medo de sair, senti que ia conseguir as respostas que tanto precisava, acabei voltando para o meu quarto. Fui dormir. Quando acordei estava naquele mesmo local. Era também todo branco e claro, mas não havia mais nenhuma porta. Era como se fosse uma jardim inextensível, mas sem flores, apenas um tapete branco. Da névoa surgiu um homem.
O homem veio até mim e me disse: Carol, sei que você tem muitas dúvidas, mas antes eu preciso te mostrar um coisa que tudo se resolverá. Então tudo começou a girar em volta de nós dois. E num instante estávamos num enterro. Eu parei para olhar as pessoas, estava enjoada, queria vomitar, mas não sabia o porquê. Passei a olhar nos rostos das pessoas. Vi meus familiares, meu noivo, todos de luto e chorando muito. Não senti a falta de ninguém, me perguntava quem teria morrido.
Eu fui abduzida? Perguntei a ele. “Não, Carol, olhe mais atentamente que você terá as respostas que busca. Você sabe o que aconteceu, apenas está negando”. A hipótese era muito louca para ser verdade, eu percebi que eu teria que achar a resposta dentro de mim e sozinha. Cheguei perto do meu noivo e ele pareceu me encarar. Dei um abraço forte nele, mas comecei a escorrer. Percebi que eu não posso tocar ninguém. Por quê? “Você sabe o porquê, Carol. Pare de negar e encare os fatos, veja por quem pranteiam e rezam”.
Cheguei perto do túmulo e quase desmaiei. Comecei a gritar e chorar, enlouquecida, enraivecida. Tudo começou a fazer sentido. Era eu que estava ali, mas não era eu porque eu estava aqui. Eu morri? “Sim, Carol, você morreu”. Então, enquanto as respostas vinham na minha cabeça, todas aquelas pessoas, mortas, eu senti que tudo novamente rodava, pobre Andréa, ela tinha dois filhos, cheguei numa sala de jogos onde haviam várias pessoas, a maioria idosos, uma festa para mortos.
Não sei quanto tempo fiquei desacordada. Minha última lembrança foi de bater o carro na madrugada de uma sexta-feira contra um poste. Eu havia bebido com amigos e perdido o controle numa curva. Meus ferimentos estavam bem limpos e toda manhã ao meu lado estava dois comprimidos com a indicação "TOME-ME".
A princípio achei que eu estivesse numa ala nova de um hospital, No entanto, as portas trancadas e um gás sonífero exalado toda meia noite não deixavam qualquer dúvida de que eu me tornei uma cobaia de experimentação. O que me exaure dia após dia são minhas lembranças: o que será que aconteceu com meu noivo? Como será que vai meu chefe? O que aconteceu? Essa última dúvida faz meu cérebro se contorcer filosoficamente afim de responder coerentemente essa questão. Já cheguei a beira da loucura achando que eu teria sido abduzida por óvnis, até mesmo cheguei a pensar que fui sequestrada, mas essas são possibilidades não eram passíveis de veracidade.
O que me chamava a atenção era como eu não tinha nenhum contato com outros seres vivos. Notei nesse tempo em que já estou que há um trabalho enorme para que eu não tenha nenhum tipo de comunicação com nada que se mova e seja vivo. Pelo jeito a sala que estou é vedada para áudio, mesmo com a saída na parede, por onde vêm minhas refeições, não consigo escutar nada. Não tenho nenhum contato visual, e acho que sou monitorada 24 horas por dia, porque, certa madrugada que acordei, o banheiro estava trancado e ouvi barulho de esfregões e água corrente. Gritei por socorro, mas de nada adiantou, ou melhor, só percebi outra dose de gás sonífero sair pela saída de ar.
Só o que me consolava eram meus sonhos. Certa noite, sonhei que estava num jardim colhendo flores, de repente eu era criança de novo e havia um parque de diversões enorme na minha frente.. Fui correndo brincar no gira-gira, mas ele começou a se tornar um furacão e, num instante, eu estava no centro dele. Então uma face apareceu sob o furacão e me disse: CORRA. Eu corri, mas passei a andar em círculos e percebi que um exército de coelhos assassinos me perseguiam com adagas e espadas. Consegui chegar ao meu quarto e lá me tranquei. Corri deitar debaixo do meu cobertor e quando dei por mim estava coberta de aranhas, meu cobertor não passava de uma grande teia. Acordei aterrorizada.
Eu perdi a conta dos dias que eu passava lá. Eles eram tão iguais que não fazia diferença se eram um ou dois, mas pareciam semanas e meses. Simplesmente o tempo parou para mim, não havia mais calor ou frio, não havia mais chuva ou sol. Eu me tornei pálida e meus olhos escuros ficaram ainda mais destacados no meu rosto. Usava sempre uma camisola branca. Mas eu não perdi a vaidade. Um dos meus passatempos é de refazer a camisola até ela parecer uma outra roupa. E meu “guarda-roupa” ia ficando a cada dia mais diversificado.
Reparei que estava ficando gorda, reclamei que queria fazer exercícios. No dia seguinte apareceu uma bicicleta ergonométrica. Estranhei o fato. Queria testar melhor. Então passei a reclamar e pedir de tudo. No dia seguinte lá estava a coisa reclamada anteriormente. Era inacreditável. Certa vez resolvi pedir amigos, então uma pessoa, quando eu acordei, dormia numa cama ao lado. Comecei a chorar. Era inacreditável.
Comecei a perguntar a essa pessoa. Quem era, o que havia acontecido, desde quando estava ali. Andréa era como ela se chamava. Tinha dois filhos, estava lá fazia algum tempo e coincidentemente desejou a mesma coisa que eu no dia anterior. Coincidência? Ela tinha por última memória estar no hospital, num quarto e estar sendo anestesiada para fazer uma cirurgia. Quando ela estava só também apareciam dois comprimidos com a mesma indicação. Depois que nos encontramos passou-se a não aparecer mais qualquer comprimido.
Andréa e eu tivemos a mesma idéia. Queríamos conhecer mais gente. Pedimos. Quando o relógio bateu a meia noite ainda estávamos jogando truco, em vez do gás sonífero, a porta do banheiro deu um estalo. Foi então que eu e Andréa não sabíamos o que fazer. Comecei a sentir desespero, uma espécie de agonia. Alguém iria entrar por aquela porta. Não aguentei. Andréa disse que não, que eu devia ficar longe da porta, mas não consegui. Dentro do banheiro havia dois vestidos de festa, um com meu nome e o outro com o de Andréa. Vestimos e eu fui adiante. A outra porta também estava destrancada e eu a abri.
Havia um salão enorme com um bifê. E muitas portas, incontáveis. Imaginei que todas davam para um banheiro que daria para outros quartos em que estariam outras pessoas jogando truco ou vendo TV a cabo. Comecei a gritar. Pouco a pouco as outras portas foram se abrindo desconfiadas, o salão foi enchendo de pessoas como nós. Algumas choravam, outras gritavam.
Eu comecei a entender o que acontecia. Era um mecanismo de reintegração social, mas todas as pessoas tinham que passar por um ritual antes. Mas porquê? E será que eu estava certa? Já havia me enganado antes, mas algo me dizia que desta vez eu estava certa. Talvez fosse o desespero por uma resposta a tudo aquilo, talvez fosse apenas um sonho, talvez eu ainda estivesse na batida, estava sendo socorrida e minha mente divagada pelo que estaria para acontecer e não pelas minhas lembranças. Essa última hipótese me incomodou, e se eu estivesse morrendo enquanto tudo isso acontecia?
Tudo fazia sentido! Não havia frio ou calor, tudo que eu desejava aparecia. A planta do lugar teria que ser redesenhada milhares de vezes para que toda aquela construção fosse verdadeira. De onde teriam surgidas aquelas pessoas? Era tudo fruto de uma mente cansada e debilitada. Eu mesma era fruto. Será que minhas memórias eram minhas? Quando cheguei nesse ponto parei de questionar. Eu tinha que manter uma certeza, eu sou eu e minhas memórias são minhas.
Lembrei da festa. Eu estava agora no centro sendo olhada por todos. Estava nua... meu vestido havia se dissolvido. As pessoas pareciam não me enxergar nem me escutar. Eu tentava contar a elas o que estava acontecendo mas não conseguia. Comecei a chorar, me dava por vencida. Eu não queria continuar ali. Queria voltar ao meu quarto. Quando cheguei lá outra surpresa.
Meu quarto só tinha novamente a cama, o relógio, a saída de ar e o espelho. Tentei voltar para a festa, talvez eu tivesse errado de quarto, mas todos os quartos eram iguais, todos eram o meu, não importa que porta eu tentasse. Me joguei exaurida na cama, não havia nada que eu pudesse fazer, então, lembrei de Andréa, ela talvez poderia me ouvir. Corri de volta para a festa, mas quando saí já não era mais o salão.
Era um local diferente. Tive medo de sair, senti que ia conseguir as respostas que tanto precisava, acabei voltando para o meu quarto. Fui dormir. Quando acordei estava naquele mesmo local. Era também todo branco e claro, mas não havia mais nenhuma porta. Era como se fosse uma jardim inextensível, mas sem flores, apenas um tapete branco. Da névoa surgiu um homem.
O homem veio até mim e me disse: Carol, sei que você tem muitas dúvidas, mas antes eu preciso te mostrar um coisa que tudo se resolverá. Então tudo começou a girar em volta de nós dois. E num instante estávamos num enterro. Eu parei para olhar as pessoas, estava enjoada, queria vomitar, mas não sabia o porquê. Passei a olhar nos rostos das pessoas. Vi meus familiares, meu noivo, todos de luto e chorando muito. Não senti a falta de ninguém, me perguntava quem teria morrido.
Eu fui abduzida? Perguntei a ele. “Não, Carol, olhe mais atentamente que você terá as respostas que busca. Você sabe o que aconteceu, apenas está negando”. A hipótese era muito louca para ser verdade, eu percebi que eu teria que achar a resposta dentro de mim e sozinha. Cheguei perto do meu noivo e ele pareceu me encarar. Dei um abraço forte nele, mas comecei a escorrer. Percebi que eu não posso tocar ninguém. Por quê? “Você sabe o porquê, Carol. Pare de negar e encare os fatos, veja por quem pranteiam e rezam”.
Cheguei perto do túmulo e quase desmaiei. Comecei a gritar e chorar, enlouquecida, enraivecida. Tudo começou a fazer sentido. Era eu que estava ali, mas não era eu porque eu estava aqui. Eu morri? “Sim, Carol, você morreu”. Então, enquanto as respostas vinham na minha cabeça, todas aquelas pessoas, mortas, eu senti que tudo novamente rodava, pobre Andréa, ela tinha dois filhos, cheguei numa sala de jogos onde haviam várias pessoas, a maioria idosos, uma festa para mortos.
Palavras de um escritor
Os sonhos não devem ser sonhados, são apenas letras que servem de apoio para a sanidade não deixar de ser a cura. E que esta seja a cura para nenhum dos males, porque os males são o que fazem as pessoas saberem que não morreram, que seja a cura do sorriso e das lágrimas, para se superar as barreiras intransponíveis e as prisões inescapáveis.
E os pesadelos que se tornaram realidade são apenas avisos da morte para virem a ser abortos de alegrias e da vida. A vida é bela por ser dura e cruel, pois não há nada mais belo que o homem sem remorsos e sem cura.
E que toda palavra que o escritor decifrar se volte contra ele e o asfixie, que o devore piedosamente pedindo perdão por ter sido escrita e por ter sido eleita a melhor de todas. Essa palavra é quente e viva, tem personalidade e sentimentos, e tudo que ela vive e sente é a amargura de existir, de ter sido escrita.
E cada chama reversa clama para ser apagada com ácool do sangue translúcido que corre até o cérebro e destila seu amor em forma de rancor contra quem não foi amado
Que todo escritor saiba que palavras são rancores vermelhos que refletem a personalidade fonética da íris. E elas matam de fora para dentro, como o ácido que se infiltra e corrói os poros. Palavras são apenas sonhos decifrados.
E os pesadelos que se tornaram realidade são apenas avisos da morte para virem a ser abortos de alegrias e da vida. A vida é bela por ser dura e cruel, pois não há nada mais belo que o homem sem remorsos e sem cura.
E que toda palavra que o escritor decifrar se volte contra ele e o asfixie, que o devore piedosamente pedindo perdão por ter sido escrita e por ter sido eleita a melhor de todas. Essa palavra é quente e viva, tem personalidade e sentimentos, e tudo que ela vive e sente é a amargura de existir, de ter sido escrita.
E cada chama reversa clama para ser apagada com ácool do sangue translúcido que corre até o cérebro e destila seu amor em forma de rancor contra quem não foi amado
Que todo escritor saiba que palavras são rancores vermelhos que refletem a personalidade fonética da íris. E elas matam de fora para dentro, como o ácido que se infiltra e corrói os poros. Palavras são apenas sonhos decifrados.
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