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sábado, 10 de maio de 2008

Crônica da Separação

Às vezes a vida é o que não parecia dever ser. E nos acomodamos de tal forma que não percebemos que ela passa e leva embora nossos sonhos, nossas alegrias. Nisso formam-se chagas incuráveis que hão de sangrar eternamente mesmo que a dor do punhal perfurando as entranhas passe. E o sangue, mais rubro que o próprio sol, corrói a pele pelos poros até que a própria pele se torne sangue, um sangue incolor e salgado que deságua em forma de amor até o coração.

Às vezes a vida leva o que nos era de melhor para um mundo oblíquo, e o rastro desse arrastar de ponteiros e passos fica cravado a ferro na nossa mente, para jamais ser esquecido, apesar de nunca ser lembrado. E o nosso melhor deixa o vazio em seu lugar, e este toma forma e corpo, aumenta de densidade e vai se apoderando do todo; e quando chega nas lembranças mais ternas e pueris se desfaz, em risos entre prantos, em sorrisos entre lágrimas, em amor em meio a dor.

Às vezes a ausência é o único caminho para a presença; que é quando se sente quando não se há, quando se abre ao se fechar, quando a desfeita vira uma feita transversa. E nesse ponto a única solução é a solidão, para evitar que se fique solitário; então há a evocação... e a partir daí apenas o adeus é benvindo e celebrado, apesar da dor aparente, sua razão é pelo amor, mais puro do que nunca, quando supera a si próprio abraçando o altruísmo egoísta, que é quando o seu melhor para a ser o melhor do outro.

1 comentários:

Magan disse...

Esse já tinha lido, mas terei todo prazer de ler de novo, pra fazer um comentário prestável.

Ele começa pesado, assim como o texto inteiro, da estimativa que criamos diante dela, de toda uma oportunidade que devíamos ter, de todas as coisas que nos faltam, que não temos, que queremos e que perdemos. Nós deixando anestesiados perante as dores, imersos na vidinha que acreditamos, tendo a fé que uma hora vai aparecer a chance de ouro para mudarmos tudo, vai aparecer alguém, de braços abertos para te amar e te fazer feliz. Tem-se felicidade, embriagados demais pra saber o que nos faz bem e logo o vento leva tudo nos deixando somente o vazio no peito...

E a cada decepção, uma facada na alma, traição ao amor dado, deixando-o sangrar e lavando nossas mágoas e rancor. E o sangue, da alma, que nos inflige as ações, o humor, daqueles sentimentos que achávamos achar, divinos... Um dia... E vai se doando, sua consistência, seu amor, até se atrofiar, do sangue nos olhos, incolor, que desce em forma de lágrima, que é pela importância que criamos para ele, os marcando que mesmo doídos. Com o nosso amor.

E tudo que fazemos para adaptar, a vida não nos deixa recuperar, todo um plano que criamos para suprir toda uma falta, da nossa vulnerabilidade, da nossa fragilidade que nos maquina a ter um humor falho, sensitivo e vacilante. E o tempo passa rápido e não fazíamos nem um pouco do que queríamos. E toda nossa jornada e suas dores e traumas marcada em nossa mente. Que para se esquecer, é preciso lembrar. E o melhor que devíamos ser, coagido, corrompido pelo mundo que não merece, que nos quebra, que nos deixa em alfa e derruba as asas de cera. Do que o mundo era, fica só o vazio e o vento ecoa pelo buraco deixado.

E da euforia que nos pomos, em proteção e em defesa. Que nada se dá uma vida feliz, outrora uma vida heróica. Sendo melhor no vazio, na solidão dentro do coração, que é o único lugar de onde temos tudo que precisamos, mas somos humanos e somos fracos, e dependemos e esperamos, cometendo tantos erros conscientes... E das trevas, nada mais te poderá fazer descer, que quando pensa que não tem mais como piorar, a luz que se pede nunca chega. Donde sempre as almas se separam e nasce sozinho, morre sozinho, que mesmo segurando a mão em leito de morte, a dor não é nossa, a ida não é nossa, mas logo será e tememos...

E da razão peca aos sentimentos, e tudo isso, é pelo amor. Que das barreiras ainda luta-se, pelo intento mais puro e limpo, que o melhor que fazemos, que os acometa com qualquer integridade...

Bem é isso que entendi e completei com o que acho, espero que faça valer um pouco uma obra tão bonita, esse ai até agora, é o que mais gostei. Vamos ao outro.